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Meio ambiente

Crianças do RN se tornam guardiãs do oceano com educação ambiental

Projeto Parceiros do Mar já alcançou 28 mil crianças e adolescentes desde 2022, ensinando de forma lúdica e inclusiva como proteger tartarugas, golfinhos e baleias; projeto busca novos apoiadores para continuar sua missão
Fernando Azevêdo
11/10/2025 | 05:42

No Rio Grande do Norte, 28 mil crianças e adolescentes já descobriram como salvar tartarugas marinhas, golfinhos e baleias por meio do projeto Parceiros do Mar. Criado em 2022, o programa de educação ambiental do Cemam (Centro de Estudos e Monitoramento Ambiental) transforma a ciência em aventura. Com o Dia das Crianças sendo celebrado neste domingo 12, a iniciativa reforça o poder dos mais jovens como agentes de conservação.

Por meio das atividades do programa, as crianças conhecem atitudes que contribuem para a conservação de animais marinhos. Neste sábado 11, o projeto realiza uma exposição científica e jogos lúdicos no Iate Clube de Natal, em parceria com outras iniciativas. Na próxima semana, a equipe estará em Areia Branca para o Festival Ventos & Mar, onde entregará 300 unidades do “Manual de Jogos e Brincadeiras sobre Fauna Marinha” para escolas da região.

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Projeto busca novos apoiadores para continuar missão - Foto: Cemam/Reprodução

As ações buscam conscientizar sobre a fauna marinha diante de um cenário em que, em média, quatro animais marinhos encalham por dia no litoral do Estado, com cerca de 1.600 encalhes por ano. Entre esses animais, tartarugas, golfinhos, baleias, aves e peixes-boi. Para traduzir dados complexos em aprendizado, o projeto aposta em abordagens lúdicas.

As crianças mergulham em realidade virtual para nadar com golfinhos, interagem com jogos educativos e exposições científicas, onde podem tocar em partes de animais empalhados, e participam de jogos inspirados na biologia e ecologia das espécies locais.

“Ao mesmo tempo em que as crianças se divertem, elas aprendem diversos conteúdos relacionados à biologia, à ecologia, à sustentabilidade”, diz o biólogo Vinícius Santana, do Cemam. Alguns dos relatos de participantes demonstram o alcance das ações. Vinícius recorda, por exemplo, o depoimento de uma criança cega após uma exposição em Natal: “Ela veio falar com a nossa equipe para dizer que era a primeira vez que se sentiu incluída nesse tema dos animais marinhos, porque pôde acompanhar a exposição”.

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Exposição busca conscientizar sobre importância da preservação – Foto: Cemam/Reprodução

A interação ocorreu durante uma exposição do projeto em Natal, onde as crianças puderam sentir como é o casco da tartaruga. “São relatos que atestam pra gente que a nossa abordagem inclui essas pessoas [com deficiência] e faz com que elas sejam um pouquinho transformadas ou estimuladas para carregar essa esperança.” Outra criança, em Areia Branca, confidenciou à equipe que o sonho dela é ser médica veterinária e “trabalhar salvando golfinhos”.

O projeto visa ser acessível a todos. Em suas atividades, participam crianças com deficiência auditiva, baixa visão, deficiência intelectual, paralisia cerebral e transtorno do espectro autista. Os conteúdos trazem legendas, audiodescrição e exploram diferentes sentidos, buscando garantir a inclusão.

Para a ONG, apoiar o Parceiros do Mar significa “garantir que mais crianças tenham acesso à ciência de forma divertida, inclusiva e transformadora – e que golfinhos, baleias e tartarugas continuem a habitar nossas águas.”

A urgência por trás da brincadeira

A necessidade do projeto nasceu de dados alarmantes. Sete em cada dez tartarugas marinhas encontradas mortas no litoral potiguar têm lixo no estômago. A interação com redes de pesca é outra ameaça constante. “A gente não quer apenas falar da realidade difícil, mas fazer com que as pessoas sintam a esperança de que há como ajudar”, frisa Santana.

Esse envolvimento já gera resultados. Com o apoio de comunidades costeiras, pescadores e barraqueiros, as notificações de encalhes se tornaram mais rápidas, aumentando as chances de resgate e sobrevivência dos animais. Apenas na última temporada reprodutiva (novembro de 2024 a maio de 2025), o Cemam ajudou mais de 45 mil filhotes de tartaruga a chegarem com segurança ao mar. Nos últimos 11 anos, o centro de estudos resgatou mais de mil tartarugas marinhas.

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Projeto já chegou a 28 mil crianças – Foto: Cemam/Reprodução

Falta de apoio desafia projeto

Apesar dos resultados, o projeto opera em 2025 sem o principal apoio financeiro que teve nos últimos três anos. Mesmo com a descontinuidade desse recurso, porém, o Cemam garante a manutenção do projeto: “Não descontinuamos o Parceiros do Mar porque acreditamos muito no que foi feito, todo o público alcançado. Todas as transformações são muito simbólicas para nós”, diz o biólogo Daniel Solon, presidente do Cemam.

Atualmente, as atividades são realizadas de forma mais pontual, por meio de parcerias, trabalho voluntário e busca por novos apoiadores. A falta de recursos dificulta a periodicidade e a expansão do monitoramento.

Além das atividades em escolas, o projeto realiza a “Ação Praia Limpa”, um mutirão de limpeza, e oficinas para adultos sobre como agir ao encontrar um animal encalhado.

Para que o projeto continue a crescer e a formar novos guardiões do oceano, o Cemam busca novos apoiadores. “Convidamos empresas, instituições e cidadãos a se juntarem a nós e fortalecer essa rede de esperança e conservação da nossa fauna”, conclui Solon.