O comitê científico que assessora o Governo do Estado nas ações de combate à pandemia da Covid-19 recomendou à governadora Fátima Bezerra (PT) a adoção de medidas mais duras para conter o avanço da doença no Rio Grande do Norte. Os especialistas indicam que, diante do aumento nas hospitalizações, é necessário ampliar o tempo do toque de recolher, para conter aglomerações.
De acordo com o governo, em atendimento às recomendações dos cientistas, novas ações serão anunciadas nesta sexta-feira (5). Uma entrevista coletiva foi marcada para as 11h da manhã e deverá ter a presença da própria governadora.

A expectativa é que Fátima Bezerra siga o conselho do comitê científico e anuncie um novo decreto para ampliar o toque de recolher, que hoje vale das 22h às 5h da manhã do dia seguinte. A adoção de um confinamento mais rígido (lockdown) está descartada.
Confira a lista de recomendações:
- Não utilizar medicamentos como prevenção ou tratamento precoce para a Covid-19, uma vez que não existem evidências científicas que embasam esta conduta;
- Ampliar as medidas restritivas em todo o território estadual, aumentado as estratégias de mitigação por um período de 21 dias, sendo passível de nova avaliação, devendo permanecer abertos apenas os serviços essenciais balizadas na Lei 13.979/2020 e nos Decretos Estaduais 29.583/2020, 29.600/2020 e 29.634/2020;
- As medidas de supressão adotadas devem ser realizadas de forma simultânea pelos municípios de uma mesma região de saúde, assim é necessária a divulgação efetiva de datas para início e nova avaliação do cenário, de modo que permita que a população se prepare para seguir as normativas;
- Normatizar a circulação nos espaços coletivos, ou seja, nos serviços essenciais estabelecidos no Decreto Estadual conforme orientações abaixo:
- Definir horários prioritários para idosos, quando aplicável;
- Definir horários de funcionamento para cada setor;
- Restringir o quantitativo de pessoas por família;
- Obedecer ao percentual de ocupação desses espaços de modo que seja possível respeitar o distanciamento social dentro do estabelecimento, evitando a ocupação máxima;
- Reforçar o uso obrigatório e correto da máscara em ambientes coletivos, a qual deve preferencialmente ser trocada a cada 3 horas;
- Intensificar as fiscalizações, pelos municípios em cooperação com o Estado, para que se tenha o cumprimento das normativas estabelecidas, de modo a viabilizar a efetivação das medidas restritivas;
- Adotar medidas relacionadas ao funcionamento do transporte público visando à redução do risco sanitário:
- Aumentar a frota de transporte coletivo em horários de pico, para reduzir as aglomerações que ocorrem nas paradas de ônibus e dentro dos transportes;
- Respeitar as medidas de distanciamento social dentro dos ônibus, de modo que não seja permitida a circulação de passageiros em pé;
- Reforçar o uso obrigatório e correto da máscara dentro do transporte coletivo;
- Aumentar a frequência de higienização dos veículos;
- Realizar fiscalizações para verificar o cumprimento das normas nas paradas de ônibus e nos veículos, com aplicação de sanções caso se identifique o não cumprimento das recomendações.
- Aquisição de testes rápidos de antígeno por municípios e pelo Estado, de modo a facilitar e ampliar o diagnóstico para COVID-19;
- Todos os serviços essenciais devem cumprir com as normas sanitárias estabelecidas, de modo a:
- Intensificar a triagem dos trabalhadores sintomáticos;
- Realizar o teste de diagnóstico em todos os trabalhadores sintomáticos;
- Realizar rastreio de contatos;
- Proceder com a notificação nos sistemas de notificação recomendados e acionar a Secretaria Municipal de Saúde local para auxiliar na realização da investigação do caso e rastreio de contatos;
- Afastar o trabalhador sintomático e seus contatos pelo período recomendado de isolamento domiciliar.
- Intensificar a realização das notificações de casos suspeitos, confirmados ou descartados para COVID-19, assim como óbitos, independentemente do método de diagnóstico utilizado, no prazo de 24 horas, nos sistemas de notificação indicados;
- Adotar toque de recolher a partir das 20 às 06 horas de segunda a sábado em todo o território estadual; aos domingos o toque de recolher aplica-se em horário integral em todo o território estadual, de modo que só será permitido o funcionamento dos estabelecimentos na modalidade delivery e take away;
- Restringir a venda de bebidas alcoólicas nos finais de semana, assim como consumo em locais públicos (como por exemplo em bares, restaurantes, conveniências, praças, praias) como estratégia de auxiliar na redução de aglomerações;
- Perseguir junto ao governo federal o aumento da oferta de vacinas COVID-19, e efetivar as estratégias de vacinação de forma mais célere a nível municipal evitando aglomerações nos locais de vacinação;
- Melhorar a qualidade da informação e da comunicação sobre o risco sanitário atual e as medidas implementadas.
Em entrevista ao programa “Bom Dia RN” nesta sexta-feira, o professor Ricardo Valentim, coordenador do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Lais/UFRN) e membro do comitê científico, afirmou que a ampliação do toque de recolher é uma medida drástica, mas necessária diante do quadro de piora da pandemia.
“A situação é muito crítica. Se não houver um alinhamento, podemos ter um efeito muito grave. Vamos contabilizar óbitos além do que a gente está vendo. Esse novo decreto, embasado nas recomendações do comitê científico, é para evitar o que aconteceu em Manaus”, enfatizou Valentim.
O pesquisador disse que, se novas medidas restritivas não forem adotadas, o Estado poderá alcançar ainda em março a marca de 4 mil óbitos provocados por Covid-19. Além disso, segundo ele, o RN pode passar a registrar 30 mortes por dia. Nesta quinta-feira (4), o Estado chegou a 3.675 mortes causadas pelo coronavírus, após 25 novos óbitos confirmados.
Em nome do comitê científico, Ricardo Valentim também cobrou um alinhamento de postura entre a governadora Fátima Bezerra e o prefeito de Natal, Álvaro Dias (PSDB), que, em meio à disputa política, têm adotado ações divergentes durante a pandemia.
“Para conter essa epidemia no Estado, é necessário o alinhamento dos gestores, municipais e estadual, principalmente a gestão de Natal, que é o principal município, com a maior densidade populacional. Virão medidas muito mais rigorosas, mas isso não vai adiantar se Estado e municípios tiverem divergência, confundindo a população. A presença do município de Natal junto com Governo do Estado nesse momento é muito importante”, emendou.
Desde o dia 18 de fevereiro, o Rio Grande do Norte está com pelo menos 80% dos leitos críticos para tratamento de Covid-19 ocupados. Nesta semana, o índice superou os 90%. No início da manhã desta sexta-feira, a taxa estava em 91,15%. Havia apenas 19 leitos disponíveis para 68 pacientes na fila.