Um dos primeiros bairros de Natal, a Cidade Alta hoje sofre com o abandono. Com o comércio em baixa, diversas lojas fecharam ao longo dos últimos anos e exibem faixas de “aluga-se”. Para alguns comerciantes, trata-se de um caminho sem volta. Para outros, é possível minimizar ou até reverter essa situação de esvaziamento do centro comercial.
O AGORA RN visitou um dos principais pontos do comércio, a Rua Rio Branco, e conversou com comerciantes que acumulam mais de três décadas de trabalho na Cidade Alta. Os problemas apontados por eles incluem o abandono por parte do setor público, o desinteresse da população, a incidência de violência e os preços altos dos alugueis.
Segundo Francisca de Assis, de 68 anos, que está há 37 anos no comércio do bairro, a falta de segurança pública causa um prejuízo imenso ao movimento local. Segundo ela, muitos moradores e clientes deixam de ir ao centro por medo da violência.
“Tudo fechando. O prefeito não manda fazer nada. Aqui tem muito ‘ladrão’. As coisas estão piorando. Se a Ribeira está ruim, aqui está pior. A gente está vivendo só com a misericórdia de Deus. As contas chegando e a gente sem condições de pagar. A gente está saindo daqui e indo para o interior para vender, porque aqui no sábado a gente não consegue nem mais de R$ 100. Tem dias que eu não vendo nem água, que custa apenas R$ 2.”
Minimizar sim, reverter é mais difícil
Para Alexandre Góis, 55 anos, que trabalhava com o pai em uma das lojas na região desde a adolescência, afirmou que a situação está totalmente diferente de sua época e que vai ser difícil reverter o cenário atual.
“Minimizar sim, reverter acho difícil voltar a ser o que era antes. Acho que a cidade cresceu. Abriram outros polos comerciais em outros bairros. Natal cresceu e se dividiu. Do público que frequentava a cidade, pouca gente ainda vem. Se virasse um novo Alecrim seria bom, mas nem isso. Vamos ver o que pode ser feito.”
Góis comparou a situação da Cidade Alta à do bairro da Ribeira, que também enfrenta esvaziamento das ruas, e sugeriu a necessidade de um acordo para manter a vitalidade da região. Ele mencionou uma recente reunião entre varejistas e bancos locais, que teve o objetivo de minimizar os prejuízos relacionados ao baixo movimento.
“Ficar igual a Ribeira, eu acho difícil, porque a Ribeira tem uma questão geográfica. Ela fica lá embaixo e a Cidade Alta toda aqui em cima. Então já é uma vantagem. Em uma reunião recente no CDL Natal, Americanas, Riachuelo, Caixa Econômica, Banco do Brasil, Bradesco e Itaú se comprometeram a não fechar as agências e as lojas que eles têm aqui, para a Prefeitura tentar ver o que pode fazer”.
Os valores considerados altos dos alugueis de lojas também se destacam como um dos principais problemas. Com a demanda em baixa, os custos para manter um espaço comercial se tornaram insustentáveis para diversos comerciantes, inclusive para redes de alcance nacional.
“Fui informado que o aluguel da C&A era aproximadamente R$ 150 mil. Fechou. Apareceram outras lojas querendo pagar R$ 70 mil e não alugou. Está prejudicando, porque a loja era uma referência. Essas avenidas tinham a C&A, Renner e Riachuelo. A C&A era referência, hoje não existe mais.”
A tendência é piorar
De acordo com Wilton Ferreira, 61, que está há quase 30 anos trabalhando em frente ao campus do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), as coisas estão ruins e a tendência é piorar ainda mais.
“Até 10 anos atrás dava para continuar vendendo alguma coisa. De lá para cá, e depois ainda da pandemia, aí piorou mais. As lojas foram fechando e a cidade está ficando parecida com a Ribeira. O comércio caiu 90% aqui. Com os shoppings que abriram, o que já estava fraco, piorou mais. Cada dia que passa estão fechando as lojas e não tem mais como ter o movimento que tínhamos antes”.
Uma das soluções seria levar estabelecimentos atrativos para a região. Segundo Ferreira, as ações precisam ser urgentes. “Acho que o prefeito pode criar alguma solução. Talvez trazer algo que chame atenção das pessoas para a cidade. Se não for isso, não tem mais solução. A tendência é piorar”, disse.
Opinião compartilhada pelo pintor Adriano Francisco da Silva, de 66 anos. “Está muito parado. Umas lojas fechadas. Prédios abandonados. Antigamente, para percorrer a avenida Rio Branco era uma ‘novela’. Hoje, passa tranquilo, sem nenhum trânsito. Acho que trouxessem prédios melhores para cá, poderia dar certo”, frisou.