As ruas da Cidade Alta agora recebem uma quantidade bem menor de visitantes. Outrora, o comércio local era vivo e no mês de novembro, por exemplo, já era possível identificar o aumento das vendas em diversas lojas devido aos festejos de fim de ano. Atualmente, no entanto, a situação é outra.
Gilvan Rocha trabalha há 24 anos no ponto da Banca Potiguar, localizada na Avenida Rio Branco. Ele contou ao AGORA RN que, depois da pandemia, precisou mudar de nicho para tentar manter o estabelecimento aberto e driblar o movimento fraco. “Devido aos fechamentos na Cidade Alta, a única coisa que nos sobrou é vender bolacha, porque a banca de revista que vendia antes não vende mais nada”, disse ele.
O comerciante disse que a circulação de pessoas pelas ruas da Cidade Alta só diminui com o passar do tempo. Ele acredita que o valor dos aluguéis na região prejudica o comércio, já que recentemente grandes lojas fecharam as portas.
“Queria que os donos dos prédios baixassem os aluguéis. Não espero nada dos políticos, mas espero que os donos dos prédios tomem consciência sobre a realidade que estamos. Eles agem como se estivéssemos nos anos 1930, quando isso aqui era o império do comércio do Rio Grande do Norte, acham que isso aqui vale ouro e não vale mais. Aqui é um comércio de rua e popular, se baixassem os aluguéis a Cidade Alta estaria movimentada com o ‘povão’, que não tem ‘grana’ para ir para o shopping”, afirmou Gilvan, em tom de desabafo.
Outros trabalhadores da Cidade Alta também apontaram a queda do movimento, como Adriana Moura, que trabalha no Delícias do Mate há 19 anos. “Já é véspera de Natal e está tudo vazio, nunca foi assim”, disse. Ela contou ainda que, com o fechamento para reforma da unidade do IFRN, na Rio Branco, o fluxo de estudantes diminuiu.
Zé Reeira, dono de um conhecido bar no Espaço Cultural Ruy Pereira, concorda que o movimento caiu drasticamente na região. “Sempre tem gente, mas está difícil porque as lojas estão fechando e a Cidade Alta, se acabando. Às sextas-feiras temos serestas, e às vezes temos samba no fim da tarde. É uma coisa que gera emprego, renda, e melhora um pouco a situação. Ainda bem que temos essas festas”, disse ele.
Debate
O comércio da Cidade Alta virou debate entre representantes do poder público. No dia 26 de setembro, ocorreu na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte uma audiência pública que discutiu o problema com participação dos representantes do setor econômico da região e de Natal.
A ausência de infraestrutura, de iluminação em alguns trechos e insegurança foram as principais reclamações apontadas durante o encontro. Já tratando-se da maneira estrutural do comércio, os aluguéis e a falta de incentivos tributários também fizeram parte das reclamações dos comerciantes. Após a audiência, a Assembleia instalou um Comitê Multidisciplinar para atuar em prol do centro. Um cronograma de atividades deve ser divulgado em breve.
Espaços culturais da Cidade Alta resistem
A Cidade Alta resiste culturalmente, mesmo com a queda do comércio. Primeiro bairro da capital potiguar, o lugar ainda é palco de apresentações culturais ricas e tradicionais. No Beco da Lama e Espaço Cultural Ruy Pereira, por exemplo, rodas de samba acontecem semanalmente. Ambos os espaços estão passando por renovações promovidas pela Prefeitura do Natal, com artistas locais refazendo os murais de grafite.
A previsão de conclusão da intervenção é 10 de novembro, segundo a artista Clara Félix. “Ficou destinado 50 metros quadrados para cada artista e a minha referência será uma personagem indígena, para enaltecer os povos originários. Também trarei outros elementos, como a flor da ‘xanana’, que representa bem a nossa cidade”, revelou ela.
Na Pinacoteca, ocorrem exposições de artistas visuais locais. Atualmente, estão sendo realizadas as exposições “Narrativas que não existem”, “Nísia Floresta: uma mulher à frente do seu tempo” e “Registro do Patrimônio Vivo do Rio Grande do Norte”. O local pode ser visitado de terça-feira a domingo, das 8h às 16h, com acesso gratuito.