As chuvas que marcaram o início desta semana causaram danos na capital potiguar. Alagamentos, abertura de crateras, queda de energia, interdição de vias e transbordamento de lagoas de captação são apenas alguns dos danos provocados pela intensidade das chuvas.
O esperado era chover cerca de 22 milímetros durante o mês de novembro, mas em somente 24 horas foram registrados mais de 240 milímetros de precipitações, de acordo com a Prefeitura do Natal, que decretou a situação como estado de emergência na cidade.
A tempestade foi a causa do transbordamento de uma lagoa de captação entre a avenida Itapetinga e a rua Tarauca, na Zona Norte de Natal. A água invadiu a casa dos moradores da região, que perderam os pertences e foram abrigados na Escola Estadual Adelino Dantas, próxima ao local do alagamento.
Ana Duarte é uma das pessoas que perderam os eletrodomésticos. Ela conta que saiu às pressas da residência onde mora com a irmã, o cunhado e uma criança sem que pudesse salvar os pertences. “Quando a gente ia saindo a geladeira já ia arriando, perdemos tudo, só não se perdeu uma televisão. Até a parede [da casa] caiu”, disse.
A moradora contou que era fim de noite quando viu que a água começou a entrar na casa e logo causou o alagamento. “Não deu tempo nem de botar o pé, não deu tempo de fazer nada, foi muito rápido”, completou.
Segundo a Prefeitura, 57 pessoas foram acolhidas na escola pela Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social (Semtas), que providenciou a entrega de alimentos, colchões, lençóis, kits de higiene e limpeza para os moradores. Outras escolas como as municipais Henrique Castriciano (Santos Reis); Nossa Senhora da Apresentação (Nossa Senhora da Apresentação); Estela Lopes (Lagoa Azul) e Cristina Osório (Felipe Camarão) e o Centro de Convivência Ivone Alves (Lagoa Azul) também serão utilizadas como abrigos provisórios.
O morador Rodrigo de Lima vive com a mãe, o padrasto e os irmãos e também teve a casa atingida pela água que alcançou pelo menos dois palmos acima da calçada. A água escoou, mas os danos não foram reversíveis e ele perdeu o sofá, guarda-roupas e vestimentas que ficaram encharcadas de água com lama.
Ele conta que mora há sete anos na rua Tarauca e o volume das chuvas foi uma surpresa que nenhum dos residentes esperava. “Foi muito rápido, a gente tentou salvar, colocou a geladeira em cima da mesa e o que tinha para salvar a gente foi salvando”, concluiu.
Já José Carlos mora no local há mais de 30 anos e relata que todos os anos a região passa pelo mesmo problema de alagamento e transbordamento da lagoa de captação. “Dizem que vai ter solução, mas até agora não existe. Cadê a prefeitura e a administração? Administrar não é só olhar para as BRs, tem acessos de rua que precisam de assistência”, disse.
Ele conta que, de todos os anos que viu acontecer os alagamentos no local, 2023 foi o pior. “O povo perdeu a paz, o sossego, a casa e os móveis. Aqui foi um desespero ontem à noite e se não houver uma medida séria vai complicar o caso ainda mais. Eu espero que alguém venha verificar a situação o mais rápido possível”, completou.
Hospital Santa Catarina também ficou alagado após chuvas
O Hospital Santa Catarina (Dr. José Pedro Bezerra), localizado no Potengi, na Zona Norte, também foi atingido com as chuvas intensas em Natal. O diretor-geral da unidade, Carlos Leão, disse que já foram implementadas barreiras para conter a água, como a elevação do piso, mas a água acabou invadindo o local.
“O problema de inundação no hospital é causado por essas quatro ruas [ao redor do hospital]. Essas ruas que declinam para o hospital e jogam a água [da chuva] para o local que é logo em uma das entradas”, pontuou. Ele conta que nenhuma das ruas têm esgotamento sanitário e sistema de drenagem, o que ocasiona o alagamento dentro do hospital. Leão relatou que o caso é recorrente, mas nesta última vez foi pior e a água atingiu até mesmo as salas da diretoria do hospital.
Ainda por causa da intensidade das chuvas, a Zona Norte de Natal teve parte da ponte Newton Navarro interditada após a abertura de duas crateras na via. Para garantir o acesso à ponte mesmo com a área de risco, a Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (STTU) inverteu as faixas da ponte, que ficou disponível exclusivamente para o acesso à Zona Norte.
Natal teve queda de energia, interdição de vias e cancelamento de aulas
Do lado oposto da cidade, na Zona Sul de Natal, na noite da última segunda-feira, 27, os bairros de Candelária e Lagoa Nova foram atingidos com a queda de energia causada pela tempestade com relâmpagos. Na Zona Oeste, os bairros de Nossa Senhora de Nazaré, Cidade da Esperança e Bom Pastor também ficaram sem energia elétrica. De acordo com a Neoenergia Cosern, empresa que realiza a distribuição de energia elétrica no RN, 4.760 clientes foram atingidos.
Além disso, com a intensidade das chuvas na terça-feira, 28, foram interditadas temporariamente as ruas Almino Afonso, na Ribeira, Interventor Mário Câmara, no Alecrim, Solange Nunes, Cidade Nova, Paulistana com a Acaraú, Integração e Xavantes, na Zona Sul. As chuvas e os alagamentos também foram a causa principal do cancelamento das aulas na rede municipal de ensino.
Diante da situação, a Prefeitura do Natal instalou um comitê de crise coordenado pela secretária de Planejamento (Sempla) de Natal, Joanna Guerra, pelo secretário municipal de Defesa Social (Semdes), Paulo César, e pela delegada Sheila Freitas. De acordo com Joanna Guerra, desde as primeiras ocorrências, foram deslocadas equipes da Defesa Civil Municipal, agentes de mobilidade da STTU, servidores da Assistência Social, Infraestrutura, Urbana e Guarda Municipal para dar suporte à população.
Segundo a gestão municipal, equipes de manutenção e drenagem da Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinfra) e da Urbana já atuam na limpeza e reparos das bombas de drenagem das lagoas de captação que transbordaram. Os reservatórios Nova Aliança, Acaraú, José Sarney, Cidade da Esperança, Jardim Primavera e Santarém foram os locais onde aconteceram o transbordamento.