13/10/2020 | 13:49
A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou nesta terça-feira, 13, que os confrontos entre as forças separatistas armênias e o Exército do Azerbaijão em Nagorno-Karabakh fizeram o número de casos do novo coronavírus disparar nos dois países. O conflito na região do Cáucaso continua, apesar do cessar-fogo negociado pela Rússia no fim da semana passada.
“A Covid-19 não respeita fronteiras nem linhas de frente e se beneficia de qualquer relaxamento da vigilância, de qualquer crise que desvie nossa atenção do esforço global para deter sua passagem mortal”, disse o porta-voz da OMS, Tarik Khasarevic, em coletiva de imprensa em Genebra.
Na Armênia, a quantidade de novos casos dobrou em duas semanas, enquanto no Azerbaijão aumentou em 80% na semana passada. “A mobilização de tropas, o deslocamento de populações… Tudo isso ajuda para que o vírus se espalhe”, acrescentou.
Essa explosão de casos aumenta a preocupação das autoridades, já que as hostilidades entre as partes do conflito está afetando os sistemas de saúde, essenciais para controlar a epidemia. A OMS informou que está intensificando suas operações na região.
Segundo o diretor do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICR) na Eurásia, Martin Schuepp, centenas de milhares de pessoas estão sendo afetadas diretamente pelo conflito. “Dezenas de milhares de pessoas precisarão de apoio durante os próximos meses”.
O diretor acrescentou que a organização, presente na região desde 1992, também aumentará suas atividades, apesar de não poder acessar todas as áreas afetadas devido à insegurança.
Combates continuam apesar do cessar-fogo
Na semana passada, Armênia e Azerbaijão negociaram um cessar-fogo que entraria em vigor ao meio-dia do sábado, 10. Apesar do compromisso assumido, em uma rodada de negociações que durou 11 horas e contou com mediação da Rússia, a trégua não foi cumprida.
As forças separatistas armênias e o Exército do Azerbaijão seguiam com os combates nesta terça, em vários setores do “front” em Nagorno-Karabakh. O descumprimento do cessar-fogo já provocou reações de Rússia, União Europeia e Irã, que pediram às duas repúblicas ex-soviéticas que apliquem o acordo.
Os dois lados trocaram acusações a respeito das hostilidades, que já causaram 600 mortos, sendo 67 civis. Estes números são parciais, visto que o Azerbaijão não divulga suas perdas militares.
Os separatistas do enclave acusam o Exército rival de ter lançado uma tripla ofensiva no sul, no norte e no nordeste da autoproclamada república. Baku disse “respeitar o cessar-fogo”, denunciando que o inimigo armênio está atacando os distritos azerbaijanos de Goranboy, Terter e Agdam.
O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, pediu nesta terça que os envolvidos no conflito cumpram o acordado. “Estados Unidos pedem ao Azerbaijão e à Armênia que implementem seus compromissos com um cessar-fogo acordado e que deixem de atacar áreas civis, como Ganja e Stepanakert”, escreveu Pompeo no Twitter. E completou: “Lamentamos a perda de vidas humanas e continuamos comprometidos com uma solução pacífica”.
A Cruz Vermelha ofereceu para ser intermediária na troca de prisioneiros, ou na repatriação das vítimas, disse o diretor, que esclareceu que as discussões sobre este assunto ainda não foram concluídas.
Envolvimento turco
Além de todos os efeitos locais do conflito, o maior temor da comunidade internacional é que o conflito se internacionalize. Enquanto a Rússia, maior potência bélica da região, tem um tratado militar com a Armênia, a Turquia tem estimulado que o Azerbaijão aumente sua ofensiva.
Ancara também é acusada de ter enviado combatentes pró-turcos da Síria para lutar junto com os azerbaijanos, o que o governo nega. Segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), 119 combatentes sírios de facções pró-turcas morreram desde o final de setembro, do total de 1.450 em Karabakh./ AFP