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Apostas
Brasil vira epicentro, mas manipulação de resultados está espalhada pelo mundo
Em 2022, o futebol mundial registrou aumento de 34% no número de jogos com suspeita de manipulação

21/05/2023 | 11:10

No filme “O Poderoso Chefão 2”, Michael Corleone sai de um reluzente Ford Fairlane e caminha em direção à casa do gangster Hyman Roth, em Miami. Dentro há uma cena de aparente felicidade, um contraste com o mundo do crime. Roth está assistindo a um jogo de futebol enquanto sua esposa faz um sanduíche.

Com comentários esportivos audíveis ao fundo, Roth diz a Corleone que gosta de futebol e de beisebol.

“Adoro beisebol desde que Arnold Rothstein arranjou a World Series em 1919”, diz ele, citando um famoso escândalo de manipulação de jogos na liga de beisebol dos Estados Unidos. Os dois homens riem.

Há décadas o esporte atrai criminosos. De pequenos infratores a grandes organizações em várias partes do mundo, conforme aponta o relatório “A Integridade no Esporte”, da Interpol. O documento é divulgado quinzenalmente pela organização internacional de polícia, com as maiores investigações sobre corrupção no esporte.

Na edição mais recente, publicada na terça-feira (16), o Brasil foi citado devido ao avanço da operação Penalidade Máxima, que apura casos de manipulação de partidas no futebol brasileiro por grupos de apostadores, um problema que está longe de ser exclusividade do país.

Em 2022, o futebol mundial registrou aumento de 34% no número de jogos com suspeita de manipulação de acordo com dados da Sportradar. No total, a empresa especializada em serviços de integridade mapeou 850 mil partidas e encontrou 1.212 delas com suspeitas, de 12 esportes diferentes, em 92 países.

O futebol lidera a lista, com 775 jogos sob investigação, e o Brasil aparece com mais eventos suspeitos, com 152 casos no país, 12% do total global. A Rússia aparece em segundo, com 92.

Quinta colocada na lista, com 41 casos, a China também é citada no relatório da Interpol. De acordo com a autoridade, o jogador sul-coreano Son Jun-ho, do Shandong Taishan, está sob investigação por acusações de manipulação de resultados.

Pelo mesmo motivo, o companheiro de equipe de Son, Jin Jingdao, meio-campista descendente de coreanos que fez 18 partidas pela seleção chinesa, teria sido levado sob custódia pela polícia em março.

Ainda em território chinês, o problema não se restringe ao futebol. Desde o início deste ano, dez jogadores profissionais de sinuca foram suspensos acusados de fazer parte de esquemas de apostas.

Em Hong Kong, a agência anticorrupção prendeu no início do mês 23 pessoas, incluindo 11 atletas, como parte de uma investigação por manipulação de resultados.

Na Nigéria, o clube Wikki Tourists iniciou uma investigação contra jogadores da própria equipe, envolvidos em um escândalo de combinação de placares.

Nos Estados Unidos, o técnico Brad Bohannon foi demitido do time de beisebol da Universidade do Alabama após denúncias de apostas suspeitas envolvendo seu time.

Cada uma dessas investigações reforça o caráter global do problema envolvendo as apostas e a necessidade de uma cooperação internacional para desarticular quadrilhas, afirma o pesquisador Felipe Marchetti, que estuda manipulação de resultados e integridade no esporte.

“Para o crime organizado internacional, é muito fácil se mover de um país para outro. Se não há uma troca de informação, troca de inteligência rápida e constante, é muito fácil driblar os sistemas de prevenção”, diz o pesquisador. “Na Uefa (União das Associações Europeias de Futebol), por exemplo, existe cooperação tanto entre os governos como entre as federações esportivas para que esse tipo de inteligência seja rápida e eficiente.”

A Fifa (Federação Internacional de Futebol) tentou algo parecido. Em maio de 2011, a entidade e a Interpol firmaram um acordo de dez anos para combater esse tipo de crime.

Em 2013, houve o principal resultado dessa parceria, com a operação Soccer Gambling, responsável por fechar cerca de mil casas de apostas ilegais e pela prisão de mais de 7.000 pessoas suspeitas de participação na manipulação de 380 partidas de futebol ao redor do mundo.

Após a revelação de casos de corrupção envolvendo cartolas da própria Fifa em 2015, a Interpol afirmou que não poderia manter a parceria com uma entidade que não estava alinhada com seus princípios éticos.

Mesmo com o fim do acordo, a Interpol continuou no encalço das máfias. Em novembro de 2022, teve início a nona etapa de sua operação no futebol, com objetivo de monitorar os jogos da Copa do Mundo no Qatar.

De acordo com dados da polícia, 19 países participaram do esforço global coordenado, que resultou na prisão de 1.200 pessoas.

Juntas, as nove etapas da operação resultaram em 20 mil prisões, apreensões de US$ 64 milhões (R$ 320 milhões, na conversão atual) em dinheiro e fechamento de cerca de 4.000 casas de jogos ilegais, que movimentaram mais de US$ 7,3 bilhões (R$ 36,5 bilhões) em apostas.

De acordo com Marchetti, parte da dificuldade enfrentada pelas autoridades para combater e eliminar as máfias de apostadores está ligada à estrutura desses grupos, em geral, semelhante às redes do crime organizado, e também, não por acaso, diretamente ligada a elas.

Dessa forma, o sistema teria o seguinte funcionamento: as organizações criminosas entram em contato com grupos especializados, conhecidos como sindicatos de manipulação de resultados. Esses grupos, formados por pessoas com boa circulação no meio esportivo, corrompem os agentes do meio do futebol para promover as combinações definidas pelos apostadores.

Em casos mais complexos, como a organização revelada pelo Ministério Público de São Paulo em 2016, na operação Game Over, as quadrilhas adotam métodos típicos do crime organizado, como divisão das funções, compartimentação, intento de lucro, hierarquia e divisão de tarefas nacionais e internacionais.

A pirâmide torna mais difícil a ação das autoridades para combater os chefes das máfias de apostadores, afirma Marchetti. “A melhor forma de combater esse crime é com troca de informação e inteligência. Sem isso, vai ser igual ao tráfico de drogas, vai trocar só o atleta, só o moleque que está sendo preso, mas o sistema será o mesmo.”

“Não adianta pensar só o aspecto punitivo se você não pensa no aspecto estrutural”, defende o pesquisador.

LUCIANO TRINDADE – FOLHAPRESS

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