25/06/2021 | 09:15
Não é novidade para ninguém o imenso, exuberante, gigantesco poder monocrático de um presidente da República no sistema presidencialista.
Mas, desde o fim da ditadura militar, em março de 1985, nenhuma das cinco personalidades que sentou na cadeira mais importante do país usou e abusou desse poder como Jair Bolsonaro.
Parte do problema não está apenas na disposição do presidente de usar e abusar de suas prerrogativas, mas de parlamentares, instituições e entidades civis e militares aceitaram tão facilmente essa situação. E estão.
São normais secretários de Estado reverenciar seus governadores toda vez que suas pastas anunciam alguma nova medida ou lançam um programa, mesmo que a participação do chefe no processo tenha sido discreta ou nenhuma.
Faz parte do protocolo das boas relações institucionais que assim seja, embora a moderna governança dispense esse hábito tão arraigado de adulação e puxação de saco.
O problema é quando um ministro de Estado perde autonomia ou autoridade porque todos os interesses do País devem explicações a um presidente obcecado pelo controle absoluto sobre tudo.
Um mandatário que não segue protocolos ou ritos e qualquer assunto adquire a abrangência e profundidade de um papo de boteco.
A famosa reunião de 22 de abril do ano passado mostrou como as coisas funcionam na intimidade deste governo.
Dizem que o então decano da Suprema Corte Celso de Mello, o primeiro a ver o vídeo, saiu estarrecido da experiência para não dizer embasbacado.
Mas Bolsonaro é assim mesmo, autêntico, fala e faz o que dá na telha e troca de associados no poder ao sabor dos interesses do momento.
Como todos esses interesses convergem para a reeleição de 2022, a dedução óbvia é que para manter controle sobre o Congresso o presidente atendeu de maneira bastante satisfatória e abrangente senadores e deputados.
Isso não sai barato, nem é simples, pois depende do rigoroso atendimento a lobbies variados e interesses de toda a sorte, numa máquina retroalimentadora de apoios que não tem final e nem paradeiro.
Um dia termina, mas a que custo?