25/02/2022 | 09:35
O comunismo como se entende no século XX é a Rússia. A China também é, mas a Rússia é mais.
Lá prosperou um dos maiores facínoras conhecidos da história moderna, Josef Stálin, para a desgraça e o desespero de milhões de pessoas.
Elas morreram de fome para consumar o projeto de modernização daquela imensa e diversificada nação.
Ao eleger como ídolo um ex-agente da KGB, que serviu na Alemanha Oriental, o presidente Jair Bolsonaro foi orientado.
Seu mentor é a extrema direita trumpista que hoje habita também em parte do Partido Republicano.
E agora ele terá de lidar com a dicotomia de transformar um contrário em um igual.
O mundo quer saber: de que lado o Brasil de Bolsonaro está?
Das ditaduras comunistas do partido único; das autocracias como a de Putin, fundadas no chamado centralismo democrático (comunista) ou do lado das ditaduras (de direita e esquerda) oriundos de golpes militares?
Bolsonaro, por esta medida, seria um candidato a ditador.
Mas de que lado?
Depois do encontro recente com Putin e de uma declaração de “solidariedade”, só Deus sabe quem é o presidente brasileiro.
Um autocrata que não gosta de democracia, embora tenha se criado em uma, é certo que ele é.
Ontem pela manhã isso ficou claro com o silêncio de Bolsonaro sobre o ataque russo à Ucrânia.
O único a falar foi o vice, Mourão. Pode ser que durante o dia – este texto está escrito no final da manhã -, uma manifestação mais convincente do presidente ocorra.
Mas a demora por si só já é uma evidência do pandareco em que as relações exteriores brasileiras se encontram.
Que a disfuncionalidade do governo já atingiu as raias da demência.
O Brasil vive a paralisia de um presidente que não sabe mais quem é ele no mundo.
Se na sua mente infantil ele é um autocrata sedutor encarnado por Donald Trump ou Vladmir Putin.
Não se discute aqui a geopolítica, se o Brasil está perdido porque seu presidente é um homem confuso, que não sabe a quem servir, já que ao povo brasileiro ele não serve.
Sabe-se que ele tem dificuldades imensas para lidar com os protocolos do cargo e com o trabalho gigantesco que implica comandar uma nação.
As férias presidenciais que antecederam a visita já agendada a Moscou, agora sabemos, custaram quase R$ 900 mil aos cofres públicos, já que o mandatário se locomove levando atrás dele todo um aparato caríssimo de segurança.
Rápido para se comunicar com seus seguidores nas redes sociais e no cercadinho do Planalto e lépido quando se trata de promover motociatas, Bolsonaro deve entender onde ele está (um país assolado pela inflação, o desemprego e a fome) e quem ele é (um político eleito pela população numa democracia presidencialista).
Petróleo
O preço do petróleo superou os US$ 100 nesta quinta-feira, coisa que não acontecia há sete anos; e bolsas pelo mundo também despencaram, tudo por obra e graça de Vladimir Putin e sua operação militar contra a Ucrânia.
No final da manhã de ontem, o Itamaraty defendeu a manutenção da ordem, mas não se referiu aos cidadãos brasileiros na área de conflito. Nesse período, Bolsonaro não abriu a boca. E se fizer depois será tarde.
A Rússia está entre os grandes produtores de petróleo e o conflito mexe com o mercado. Os brasileiros entendem bem este problema.
Mourão falou
O vice-presidente Hamilton Mourão é mesmo especialista em comprar problemas com o chefe.
Ontem, enquanto Bolsonaro silenciava sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia, ele comparou o presidente russo, Vladimir Putin, ao líder da Alemanha nazista, Adolf Hitler.
“Tem que haver o uso da força, realmente um apoio à Ucrânia, mais do que está sendo colocado. Essa é a minha visão. Se o mundo ocidental pura e simplesmente deixar que a Ucrânia caia por terra, o próximo será a Bulgária, depois os Estados bálticos, e assim sucessivamente, assim como a Alemanha hitlerista fez nos anos 30”, declarou Mourão se sentindo o próprio pracinha da FEB, a gloriosa Força Expedicionária Brasileira.
Bolsonaro não disse, mas Mourão sim.
“O Brasil não está neutro. O Brasil deixou muito claro que respeita a soberania da Ucrânia. Então O Brasil não concorda com a invasão de território ucraniano”.
Tirando uma casquinha. Enquanto isso, o ex-presidente Lula repudiou o ataque da Rússia à Ucrânia durante entrevista a uma rádio e aproveitou para detonar a visita de Jair Bolsonaro a Moscou.