17/03/2023 | 08:13
Segmentos diferentes da economia potiguar enfrentam o mesmo problema: dificuldades em virtude dos ataques criminosos que se repetem deste terça-feira 14 em todo o Rio Grande do Norte. Os setores de bares e restaurantes e de mobilidade urbana atuam em áreas totalmente diferentes, mas o primeiro depende do segundo. Em virtude dos incêndios aos ônibus, o recolhimento das frotas causa prejuízo aos dois: os veículos queimados geram perda patrimonial e os que deixam de circular ocasionam em menor faturamento ao setor, enquanto os restaurantes precisam fechar mais cedo pela dificuldade de deslocamento dos funcionários. Ou então, recorrer ao pagamento de transporte por aplicativos como uma alternativa. Eles reclamam que o setor sofreu queda de 50% nas vendas.
Entre os conselheiros da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes do Rio Grande do Norte (Abrasel/RN), Max Fonseca disse que a situação está difícil para o setor em virtude dos ataques, que se tornaram um fato que agravou a situação econômica para bares e restaurantes do estado. “Não só à noite. Mesmo durante o dia. As pessoas estão ficando em casa e não estão circulando mesmo durante o dia. No Alecrim, os restaurantes que funcionam no Alecrim, com um volume enorme de gente na rua. A gente tem uma perspectiva para frente não muito boa independente disso e isso é um agravante monstruoso em cima do resultado das empresas”, disse durante entrevista à Rádio 96FM.
De acordo com Fonseca, há relatos de que alguns empresários sofrem com quedas de até 80% na vendas, enquanto a média na queda do setor é de pelo menos 50%. “As empresas já sofrendo com toda essa pressão que sobrou da pandemia, pagamentos dos empréstimos que foram feitos atrás. A gente começava a ver o movimento voltar e ter um problema desse é gravíssimo. Nosso segmento, a grande maioria, são de micro e pequenas empresas, gente que fatura dois ou três dias para pagar um imposto, para pagar folha de pessoal, na próxima segunda-feira tem um imposto federal, realmente a situação está muito difícil para nós porque as vendas despencaram. Relatos de vendas com queda de 80% nos últimos dois dias em alguns estabelecimentos. No mínimo queda 50% [no setor]. Os horários de meio-dia, de almoço, pessoas que almoçam fora, com a suspensão das aulas e de serviços, elas não circulam e os restaurantes estão sofrendo, estão à míngua”, desabafou Fonseca.
Segundo o conselheiro da Abrasel, as empresas estão funcionando, mas estão tendo maiores custos em virtude das dificuldades enfrentadas pelos funcionários com o transporte público. “Estão tendo que pagar Uber, transporte especiais para levar as pessoas para casa. A gente tem um dado que é bem difícil. Semana passada saiu uma nova pesquisa dos bares e restaurantes e temos muita gente sem condição de promover lucro. O setor já vinha de um problema. A pandemia acabou, mas naquele momento que fomos proibidos de funcionar, tivemos que contrair empréstimos, tivemos que recorrer a linhas de financiamento e agora chegou, depois dos períodos de carência, o momento de pagar. Temos 18% das empresas ainda no prejuízo e temos quase 80% das empresas comprometendo até 10% das suas receitas com pagamentos dos empréstimos. 10% é o lucro do setor hoje. Um quadro já difícil e foi agravado com este problema [de segurança pública]”, revelou Max Fonseca.
Outra questão levantada pelo representante do segmento de bares e restaurantes e que ainda prejudicaria o setor é a desconfiança da população. “Vamos imaginar que a partir deste momento, se suspender 100% os problemas na segurança, as pessoas ainda ficam temerosas, ficam esperando para ver. Tudo isso pega diretamente nos bares e restaurantes”, ponderou.
De acordo com um levantamento nacional feito pela Abrasel, 64% das empresas têm hoje empréstimos bancários contratados. A inadimplência é de 30% entre os que tomaram dinheiro de linhas regulares e de 24% entre os que aderiram ao Pronampe – a média do programa no Brasil é de 5,2%. Segundo o levantamento, 52% das empresas não conseguiram reajustar preços conforme a média de inflação, 29% fizeram reajustes abaixo do índice e 22% não conseguiram realizar reajustes. Outros 37% aumentaram conforme a média e apenas 12% aumentaram o cardápio acima deste índice. Ainda de acordo com a pesquisa, em média 10% do faturamento das empresas que têm empréstimos está empenhado em pagar as parcelas. Para um terço delas (33%), está acima deste patamar.
Setor de transportes acumula prejuízos com carros incendiados e menor circulação de linhas
Circulando com frotas reduzidas em virtude do incêndio de vários ônibus, o sistema de transporte público do Rio Grande do Norte acumula prejuízos. Sejam eles patrimoniais, pela perda de veículos, ou pela menor circulação. De acordo com Eudo Laranjeiras, presidente da Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Nordeste (Fetronor), a substituição dos 10 carros que foram queimados chegaria na casa dos R$ 7,5 milhões.
“Você tem o prejuízo que é deixar de circular, deixar de transportar as pessoas, prejudicando todo mundo, prejudicando o comércio, as escolas. Além do prejuízo material. Esse aí a gente só vai poder fazer um balanço no final dessa coisa toda. Mas já foram quase 10 carros. E isso a preço de carro novo dá R$ 7,5 milhões. Não sei o ano dos carros que queimaram, mas os carros novos vão custar em torno de R$ 7,5 milhões. Os veículos foram totalmente destruídos”, disse.
Almir Buonara, diretor da empresa Trampolim da Vitória, disse em entrevista à 96 FM, que o movimento é preocupante não só por parar o sistema de transporte, mas a atividade econômica do estado. “O nosso pleito é no sentido de que haja segurança, principalmente nos bairros onde esses ataques normalmente acontecem, para que os ônibus possam circular, pegar os passageiros e levar até o centro de Natal ou ao destino que seja. A área de segurança do estado, quando avisamos que não íamos entrar em operação, a segurança disse que estaria atuando no sentido de garantir esse serviço e essa segurança. Acreditamos no esforço que vem sendo feito pela área de segurança e pela governadora, é importante registrar. Mas é realmente uma situação que fugiu do controle. Mas nessa reunião, agora pela manhã, vamos tentar mais uma vez encontrar alternativas para que a gente possa oferecer o serviço de transporte à população”, relatou.