O ex-senador e ex-governador José Agripino Maia, líder do União Brasil no Rio Grande do Norte, defende a junção de nomes de centro e direita em prol de um projeto para as eleições de 2026. Em entrevista exclusiva ao AGORA RN, Agripino afirma que é preciso colocar o “interesse do Estado” acima de “ambições pessoais”, para formar uma chapa competitiva.
Sobre o próximo governador, Agripino declara que precisará ser alguém com “coragem” de tomar medidas em busca de um maior equilíbrio fiscal do Estado – que convive há anos com dificuldade para pagar até salários de servidores.
O grupo de centro e direita tem, atualmente, nomes como os senadores Rogério Marinho (PL) e Styvenson Valentim (Podemos), o prefeito de Mossoró, Allyson Bezerra (União Brasil), e o ex-prefeito de Natal Álvaro Dias (Republicanos). O líder do União Brasil no Estado defende que o candidato a governador desse grupo seja definido através de uma pesquisa de intenção de votos. Ele se coloca à disposição para ajudar na articulação, garantindo que não será candidato a nada.
Questionado sobre a senadora Zenaide Maia (PSD), que tem sido descartada por lideranças de centro e direita, Agripino afirmou que há um canal de diálogo aberto, e que é possível construir uma aliança envolvendo a líder do PSD no RN.
Confira a entrevista na íntegra:
AGORA RN – O senhor tem sido um defensor da união das forças de centro. Acredita que isso será possível nas eleições de 2026 no Rio Grande do Norte?
JOSÉ AGRIPINO – Aqui em Natal, o prefeito Paulinho Freire ganhou a eleição com o centro, a direita e a extrema-direita. É um exemplo para a gente seguir, para a gente observar bem. Se a direita e o centro tiverem maturidade política, repetirão aquilo que fizeram na eleição de Natal e se unirão para disputar o Governo do Estado e ganharão. Eu não tenho nenhuma dúvida de que ganharão. O que é preciso é que as ambições pessoais sejam colocadas abaixo do interesse do Estado, para que a gente possa formar uma chapa de pessoas com competência, com capacidade política para enfrentar as dificuldades políticas que toda mudança envolve.
AGORA RN – Qual perfil o senhor acredita que o próximo governador do Rio Grande do Norte deve ter?
JOSÉ AGRIPINO – Não se vai consertar o estado do Rio Grande do Norte sem promover o equilíbrio fiscal. É preciso que o centro se una com um candidato que tenha coragem de fazer as mudanças que o equilíbrio fiscal do Estado exige e precisa.
AGORA RN – O senhor vê esses atributos entre os nomes postos na disputa, tais como os senadores Rogério Marinho e Styvenson Valentim, o prefeito de Mossoró, Allyson Bezerra, e o ex-prefeito de Natal Álvaro Dias?
JOSÉ AGRIPINO – No campo da centro-direita, há uma quantidade bastante expressiva de bons candidatos com capacidade de ganhar eleição. O que é preciso é que esse elenco de bons candidatos faça uma aliança, e que monte uma chapa. Nós temos muito mais nomes do que o campo da esquerda, muito mais. Enquanto eles têm dificuldade até de encontrar um candidato competitivo, do lado de cá nós temos vários candidatos competitivos. O nosso desafio é fazer com que esses candidatos que são competitivos se unam em nome do interesse do Estado. É preciso pensar no interesse do Estado, que há muito tempo não sai do canto. É preciso se reinventar, se refazer, a começar pela reconstrução de um equilíbrio fiscal.
AGORA RN – Qual será o seu papel nesse processo?
JOSÉ AGRIPINO – Eu não sou candidato a nada, mas eu vou fazer o possível pelo trabalho de articulação. Minha tarefa é esta: tentar unir um grupo que é capaz de ganhar eleição. Há espaço para muita gente. Tem uma vaga de governador, uma vaga de vice-governador, duas vagas de senador, quatro vagas de suplente de senador e toda uma chapa de deputados federais.
AGORA RN – Qual deve ser o critério para a montagem da chapa?
JOSÉ AGRIPINO – Por que não fazer uma pesquisa num período em que eles atuem? Eu advogo pela realização de uma pesquisa de opinião pública feita por um instituto que eles entendem ser de credibilidade, no período em que eles julgarem conveniente. Se eles toparem esse critério, nós teremos encontrado o caminho da confluência, pela via da sensatez. Ou seja, vai ser candidato quem tiver melhor chance de ganhar, para governador, para vice, para senador, etc.
AGORA RN – O prefeito de Mossoró, Allyson Bezerra, tem despontado como alternativa para a disputa do Governo do Estado. Como o senhor avalia o nome dele?
JOSÉ AGRIPINO – Allyson é uma boa novidade na política do Estado. Um prefeito que se elege com 78% dos votos de uma cidade com quase 200 mil eleitores não é uma figura qualquer. É uma figura singular. Isso nunca houve na história de Mossoró. Ele tem legitimidade, se quiser, para pleitear (a cadeira de governador). Quem vai dizer se ele é o preferido do grupo para ganhar a eleição é a pesquisa que eu vou propor. A definição vai ser eleitoral, muito mais do que política. Política é o arranjo da aliança. A definição da eleição é pelo eleitor, e o eleitor vai se manifestar em uma pesquisa de preferência.
AGORA RN – A senadora Zenaide Maia pode participar desses diálogos?
JOSÉ AGRIPINO – Zenaide é uma pessoa que transita bem entre as nossas lideranças? Entre muitas delas, sim. Ela tem arestas conosco? Nenhuma. O esposo dela, Jaime Calado, na eleição agora de São Gonçalo do Amarante, teve o apoio do União Brasil. Foi uma disputa acirrada entre ele e o PT. Significa um alinhamento automático? Não. Mas significa um desarmamento de espíritos e uma perspectiva de conversa. Existe um campo de diálogo com a assinatura Zenaide? Existe agora? Está feita uma aliança? Claro que não. As conveniências vão ainda ditar os rumos.
AGORA RN – Como está vendo as primeiras semanas de Paulinho a frente da Prefeitura do Natal? Quais desafios ele terá?
Paulinho está abrindo a caixa de segredos da Prefeitura, e está descobrindo o que a Prefeitura deve fazer para planejar o futuro. Ele não tinha conhecimento de todos os números da Prefeitura, então deve ir com paciência e com muita assertividade, muito desejo de acertar. Ele vai imprimir rumos à administração pessoal dele, cobrindo as lacunas que o passado possa ter deixado para ele e projetando o futuro. Sempre com paciência, com discernimento e com muita capacidade que ele tem de dialogar e de encontrar justificativa para as atitudes que ele vai ter que tomar.
Ele é suficientemente hábil para explicar a situação real da Prefeitura e justificar as atitudes que ele vai ter que tomar em nome da governabilidade. Sem que isso signifique rompimento com ninguém, significa a necessidade que ele vai ter de fazer coisas para conquistar a condição de governabilidade.
AGORA RN – O mundo estão falando sobre a posse do presidente Donald Trump. O que pode reverberar para o Brasil?
JOSÉ AGRIPINO – O povo americano, democraticamente, pelos critérios da eleição americana, escolheu Donald Trump e a República. Ele tinha uma mensagem e configura essa mensagem no seu discurso de posse. O discurso de posse dele inspira ao mundo certos cuidados, porque ele aborda questões como deportação de imigrantes, não confirmação de gênero que não seja masculino ou feminino, imposição de sobretaxas para algumas nações que adotem posturas com as quais ele não concorda.
Mas em última palavra, o que é preciso entender o que é que interessa na relação do Brasil com os Estados Unidos. É claro que interessa a relação tecnológica, cultural, mas o que interessa muito é a relação comercial, e na relação comercial o Brasil importa mais do que exporta, então quem tem que proteger os seus interesses são os Estados Unidos, que vendem muito ao Brasil, e tem interesse em manter essas vendas.
O Brasil pode ter outras preocupações, dentre as quais a questão do clima, que é muito importante, nos diz respeito em grande medida. É importante esperar para ver se ele vem a Belém, e o que é que ele vem a dizer na COP23.
AGORA RN – Em relação ao Brasil, em 2026, o senhor acha que o presidente Lula deve seguir para a reeleição?
Essa é uma pergunta que tem que ser feita a ele ou ao PT. Eles vão avaliar na hora certa a condição de reeleição de Lula, se o PT tem em Lula o melhor candidato, se o PT faz alianças ou não, com quem faz alianças.
Isso é uma questão que remete exclusivamente a ele. A gente sabe como é que o PT raciocina. É a ele quem vai decidir. Agora, uma coisa é certa: Lula não é mais o mesmo.
Lula é uma pessoa que já beira os 80 anos, já foi presidente da República algumas vezes, já não é mais o mesmo desafio que foi quando ele foi presidente pela primeira vez, quando foi presidente pela primeira vez, em que trouxe muitas novidades, como novidades no campo da educação, novidades que o Brasil tudo aplaudiu, no campo da redistribuição de renda, como foi o caso do prosseguimento do programa que Fernando Henrique Cardoso havia iniciado e que ele completou com o Bolsa Família.
Não há nenhuma novidade desse terceiro governo de Lula. É um governo sem grandes emblemas.