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Opinião
A perpétua desunião potiguar; leia opinião de Alex Viana
Continuidade da divisão da classe política apenas enfraquece e prejudica o Estado. Resta a Fátima superar isso
Alex Viana
03/11/2023 | 05:00

Durante uma conversa-entrevista de três horas que tive junto com o repórter Diego Campelo, da Editoria de Política do jornal Agora RN, o ex-deputado federal Henrique Eduardo Alves (PSB) ofereceu uma avaliação sobre os desafios políticos enfrentados pelo Rio Grande do Norte. A conversa, marcada para publicação amanhã, abordou aspectos do governo Fátima Bezerra (PT), com Henrique apontando o que ele vê como o principal erro da administração atual: um tipo de egoísmo político que procura, junto com o PT, monopolizar as iniciativas em prol do estado.

Henrique, cuja história política é intrinsecamente ligada à trajetória do Rio Grande do Norte nas últimas quatro décadas, possui uma vasta experiência nas relações com a capital federal. Sua biografia inclui uma atuação em Brasília por onze mandatos consecutivos — como deputado, ministro do Turismo e presidente da Câmara –, desafios pessoais como a cassação de seu pai, Aluízio Alves, na Ditadura Militar, a batalha contra o câncer nas cordas vocais e a prisão durante a Operação Lava Jato, que ele reivindica ter sido injusta. Hoje, sem mandato, observando a cena, nota a falta preocupante de liderança que vai além do consenso, enfatizando a necessidade de unificação da classe política do estado.

Para Henrique, a postura da governadora não deveria se limitar a apresentações em Brasília acompanhada exclusivamente por deputados alinhados ao seu governo. Ele enfatiza que, superado o período eleitoral, é essencial buscar a unidade e a convergência, porque isso fortalece a representação limitada do RN, composta por somente 11 parlamentares. “Recordo-me, enquanto ministro, do impacto quando um governador visitava um ministério respaldado por toda a bancada estadual. A imagem é poderosa”, ele comenta. No entanto, Henrique também reconhece as dificuldades inerentes em reunir representantes de espectros políticos divergentes, como lulistas e bolsonaristas, mas ressalta ser este um papel essencial da governadora.

Recentemente, critiquei neste espaço a fragmentação da classe política potiguar, que muitas vezes ignora os verdadeiros interesses do Estado. A tendência atual é um deslocamento da essência política para um pragmatismo focado na engrenagem eleitoral e em interesses ocultos. Henrique ecoa essa percepção, apontando um Congresso desvinculado da solução dos problemas concretos do país, excessivamente voltado a agendas ideológicas.

A governadora Fátima Bezerra detém, de fato, uma considerável influência política, mas enfrenta no estado a oposição de seus adversários. Com Lula, essa influência é diametralmente oposta a que ela tinha com o antecessor, que jogou contra a gestão petista, por razões não republicanas. Nesse contexto, atitudes de grandeza e conciliação tornam-se ainda mais cruciais – embora inimagináveis. Fátima sabe que não pode contar com a oposição, e dificilmente a essa altura irá buscar consenso com adversários. Talvez a oportunidade tenha passado.

A prática de não incentivar a união da classe política não é exclusividade do PT, como demonstrado pelas ações do governo Bolsonaro. Neste panorama, antever uma mudança de atitude parece uma ilusão. A continuidade dessa divisão apenas enfraquece e prejudica o estado. Resta a Fátima, e ao PT, o desafio de superar estes obstáculos com o governo Lula, arcando com as consequências de suas conquistas e fracassos – liderando apenas os seus e não a classe política do estado como um todo.

*Alex Viana é jornalista.

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