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Literatura

“Luz para o Caminho”: João Maria lança obra que une fé, literatura e solidariedade

Livro reúne 52 textos breves e tem renda revertida ao abrigo Anízia Pessoa; autor propõe meditações semanais para fortalecer fé e convivência
Redação
15/11/2025 | 06:37

Na noite desta sexta-feira 14, o espaço O Poeta, em Natal, recebeu um lançamento que foge ao ritmo acelerado dos dias atuais. Em meio a um cotidiano atravessado por urgências e opiniões rápidas, o escritor e professor potiguar João Maria Ramos Honório de Lima apresentou Luz para o Caminho, obra que propõe justamente o contrário: uma leitura que respira e se deixa saborear em pequenas doses semanais.

Com 52 reflexões inspiradas nas parábolas de Jesus, em fábulas tradicionais e na sabedoria que nasce das histórias comuns, João Maria constrói uma coletânea que trata a fé como prática diária – silenciosa, persistente e profundamente humana. Não se trata de um livro teológico, mas de um convite à interioridade, ao olhar demorado e às pequenas escolhas que moldam o caráter.

“Luz para o Caminho”: João Maria lança obra que une fé, literatura e solidariedade
João Maria constrói coletânea que trata fé como prática diária – silenciosa, persistente e profundamente humana - Foto: Reprodução

O lançamento reuniu leitores, professores, familiares e membros da comunidade religiosa local. No centro do evento, além do livro, uma causa: toda a renda será revertida ao abrigo Anízia Pessoa, que acolhe idosos em situação de vulnerabilidade. O gesto reflete o espírito da obra, trazendo uma fé que transcende a página e se materializa em cuidado.

Confira a entrevista com o autor:

AGORA RN – Como nasceu a ideia de escrever Luz para o Caminho?
João Maria
– A ideia nasceu do meu amor pelas Escrituras e da minha trajetória como professor de língua portuguesa. Nos últimos anos, dediquei-me a ler a Bíblia com mais atenção e encontrei nela uma verdadeira luz para a vida. Percebi, porém, que muitas pessoas e crianças têm dificuldade de se aproximar do texto bíblico. Por isso, escrevi o livro com textos curtos, simples e com mensagens claras, como nas fábulas e provérbios. Meu desejo é aproximar a Palavra de Deus de todos — leitores iniciantes, crianças ou adultos — mostrando que, em cada passagem, há sempre algo que pode iluminar o nosso caminho.

AGORA RN – O que o leitor pode esperar ao folhear essas 52 reflexões?
João Maria
– O leitor encontrará reflexões simples e sinceras. Não escrevo como teólogo, mas como alguém que encontrou na Palavra de Deus orientação e sentido. Não há análises acadêmicas, e sim um convite: olhar para cada texto com fé e abertura, permitindo que a luz das Escrituras ilumine a própria caminhada.

AGORA RN – De que forma as parábolas de Jesus inspiraram os textos e fábulas do livro?
João Maria – As parábolas de Jesus me inspiraram pela capacidade de ensinar verdades profundas com uma linguagem simples. Busquei seguir esse caminho: transformar valores do Reino de Deus em narrativas acessíveis, acompanhadas de versículos que iluminam o sentido de cada texto. O livro traz 52 reflexões, uma para cada semana do ano, para serem lidas, meditadas e vividas — seja individualmente, em família ou em grupos de partilha. É um convite para semear luz na caminhada, pouco a pouco.

AGORA RN – Você menciona que os textos unem sabedoria popular e valores cristãos. Pode citar um exemplo marcante dessa combinação?
João Maria
– Um exemplo é a fábula A Galinha dos Ovos de Ouro. Ela mostra como a ganância pode levar alguém a perder tudo. O mesmo ensinamento aparece em Provérbios 28:22, que alerta que o apressado em enriquecer acaba na pobreza, e em Mateus 25:21, que valoriza o cuidado fiel e constante com aquilo que recebemos. Ou seja, a sabedoria popular e a sabedoria cristã se encontram na mesma lição: a verdadeira riqueza nasce da paciência, da fidelidade e do cuidado diário — não da pressa ou da ganância.

AGORA RN – O livro busca inspirar gestos de amor e compaixão. Qual a importância de trazer essas mensagens em tempos de tanta polarização e pressa?
João Maria
– Vivemos tempos marcados por pressa, disputas e opiniões que nos afastam uns dos outros. Por isso, retomar mensagens de amor e compaixão é essencial. Elas nos lembram que, antes de qualquer diferença, somos chamados a cuidar, ouvir e acolher. Pequenos gestos podem transformar a convivência e renovar a esperança. O livro é um convite para desacelerar e deixar que a Palavra de Deus volte a guiar nossa forma de olhar e tratar o próximo.

AGORA RN – Qual papel a fé desempenhou no processo de criação da obra?
João Maria
– A fé foi o alicerce de todo o processo. Somos provados diariamente pelos desafios da vida, e é a fé que nos sustenta e orienta nos momentos de dúvida. Ela é alimento diário, força silenciosa que nos mantém de pé. Ao escrever, busquei justamente partilhar essa experiência: a certeza de que, quando nos deixamos conduzir pela Palavra, encontramos luz, sentido e coragem para continuar a caminhada.

AGORA RN – Em sua opinião, qual é o maior desafio de viver o Evangelho no cotidiano moderno?
João Maria
– Viver esses valores no cotidiano é desafiador porque, como aponta Zygmunt Bauman, estamos mergulhados em “relações líquidas”: vínculos frágeis, rápidos e facilmente descartáveis. Além disso, há um clima de intolerância crescente, em que escutar, dialogar e acolher o outro se tornam atitudes cada vez mais raras. O desafio, hoje, é sustentar vínculos com respeito, paciência e cuidado, mesmo quando tudo ao redor parece incentivar a pressa, o conflito e a indiferença. É continuar escolhendo o humano — ainda que o mundo esteja acelerado demais para isso.

AGORA RN – Que mensagem você gostaria que os leitores levassem após concluir a leitura de “Luz para o Caminho”?
João Maria
– Espero que o leitor encontre, nestas páginas, um momento de pausa e reflexão. Que cada texto o ajude a olhar para a própria vida com mais calma, generosidade e consciência. Se ao final da leitura houver um pouco mais de leveza nos pensamentos, gentileza nos gestos e cuidado com o outro, então o livro terá cumprido seu propósito.

AGORA RN – Toda a renda do lançamento será revertida ao abrigo Anízia Pessoa. Por que escolheu essa causa?
João Maria
– Escolhi apoiar o Abrigo Anízia Pessoa porque acredito que os idosos são um grupo frequentemente esquecido na sociedade de hoje. Vivemos em uma cultura que exalta a juventude e, muitas vezes, negligencia a maturidade e a experiência. No livro, há um poema de Olavo Bilac que nos convida a reconhecer a beleza do que atravessou o tempo — e isso vale também para as pessoas. Apoiar o abrigo é uma forma de valorizar quem já percorreu um longo caminho e merece cuidado, respeito e presença. Quero contribuir para que esse olhar mais atento e humano seja lembrado.

AGORA RN – Há algum texto que tenha um significado especial ou pessoal para você?
João Maria
– Gosto muito de um texto que fala de dois amigos diante do perigo: um foge, o outro não consegue fugir. Essa parábola me lembra que a verdadeira amizade se prova nas dificuldades — não basta torcer de longe, é preciso estar junto. Cristo é o maior exemplo de amizade fiel, e Ele nos ensina a ser mais que companheiros de jornada: a ser irmãos no amor e na verdade.