A crise política ganhou nesta quinta-feira (26) mais um capítulo com a revelação de novos trechos de conversas do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, com integrantes da cúpula do PMDB. Os diálogos, divulgados pelo Jornal Nacional nesta quinta-feira (26), foram gravados por Machado e mostram a tentativa de livrar políticos da Lava Jato. Sérgio Machado era considerado pelos investigadores o caixa da cúpula do PMDB.
O senador José Agripino mais uma vez está no centro das discussões, sendo citado no diálogo, por Sérgio Machado, como alguém que “que pode ser parceiro”. “Não é possível que ele vá fazer maluquice”, disse o ex-presidente da Transpetro.
Em contrapartida, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), responde: “O Zé nós combinamos de botá-lo na roda. Eu disse ao Aécio e ao Serra que no próximo encontro que a gente tiver tem que botar o Zé Agripino e o Fernando Bezerra. Eu acho”.
Para o que Machado replica: “O PSB virou uma oposição radical. O Zé não tem como não entrar na roda”.
Renan é padrinho político de Sérgio Machado: foi pelas mãos de Renan que Machado ficou 12 anos na presidência da Transpetro, subsidiária da Petrobras na área de gás natural e combustíveis.
Machado mudou de estratégia, saindo da condição de aliado para delator, quando percebeu que poderia ser alvo de novas delações e receando ser preso.
No mesmo diálogo, Renan e Machado fazem críticas a vários políticos. Citam o senador Aécio Neves, presidente do PSDB. O deputado Pauderney Avelino, líder do Democratas. Mendoncinha, como o agora ministro da Educação, deputado Mendonça Filho, do Democratas, é chamado por vários políticos. Senador José Agripino, presidente do Democratas. Senador Fernando Bezerra Coelho, do PSB. Senador José Serra, do PSDB, hoje ministro das Relações Exteriores. Aparentemente, segundo investigadores, eles criticam os políticos por defenderem o impeachment e se posicionarem a favor da Lava Jato.
VEJA A TRANSCRIÇÃO DO DIÁLOGO
Sérgio Machado: E o PSDB pensava que não, mas o Aécio agora sabe. O Aécio, Renan, é o cara mais vulnerável do mundo.
Renan: É.
Sérgio Machado: o Aécio é vulnerabilíssimo. Vulnerabilíssimo há muito tempo. Como que você tem cara de pau, Renan, aquele cara Pauderney que agora virou herói. Um cara mais corrupto que aquele não existe, Pauderney Avelino.
Renan: Pauderney Avelino, Mendocinha.
Sérgio Machado: Mendocinha, todo mundo pô? Que *** é essa querer ser agora o dono da verdade? O Zé (Zé Agripino) é outro que pode ser parceiro, não é possível que ele vá fazer maluquice.
Renan: O Zé nós combinamos de botá-lo na roda. Eu disse ao Aécio e ao Serra que no próximo encontro que a gente tiver tem que botar o Zé Agripino e o Fernando Bezerra. Eu acho.
Sérgio Machado: O PSB virou uma oposição radical. O Zé não tem como não entrar na roda.
Renan: O PSB quer o impeachment, mas o Fernando (Bezerra) é um cara bom.
Sérgio Machado: Porque também entende disso que a gente está falando.
Renan: É.
Machado e Renan falam sobre Dilma, que na época da gravação ainda não tinha sido afastada. Renan se confunde e dá a entender que, para ele, manter Dilma é a maneira de melar a Lava Jato.
Sérgio Machado: porque tem que tomar cuidado porque esse *** desse Noblat botou que essa coisa de tirar a Dilma é maneira de salvar os corruptos.
Renan: Tirar a Dilma? Manter a Dilma?
Sérgio Machado: Tirar a Dilma, que é um processo de salvação, de salvação.
Renan: Que é a lógica que ela fez o tempo todo.
Renan e o então aliado concordam com um cenário: a Lava Jato atingiu o mundo político em cheio e que o dinheiro não era apenas para campanha eleitoral.
Sérgio Machado: É porque esse processo. Porque Renan, vou dizer o seguinte, dos políticos do Congresso, se sobrar cinco que não fez, é muito (receber dinheiro para campanha). Governador nenhum. Não tem como, Renan.
Renan: Não tem como sobreviver.
Sérgio Machado: Não tinha como sobreviver.
Renan: Tem não.
Sérgio Machado: Não tem como sobreviver porque não é só, é a eleição e a manutenção toda do processo.
Renan: É.
LAVA JATO
À medida em que as delações na Lava Jato foram aumentando e atingindo mais políticos, surgiram novas propostas no Congresso sobre o alcance de investigações criminais.
A ideia é proibir a delação de presos e impedir prisões depois do julgamento em segunda instância, contrariando a decisão do Supremo Tribunal Federal, tomada há três meses.
O Ministério Público Federal diz que é uma reação da classe política para limitar a Lava Jato.
Nos diálogos já divulgados, tanto Renan como Romero Jucá dizem que é essencial mudar a lei das delações, proibindo que presos possam fazer esse tipo de acordo. Eles acreditam que a prisão leva os acusados a colaborar e também se mostram contrariados com a decisão recente do Supremo que permite que réus condenados em segunda instância já comecem a cumprir a pena na cadeia.
AGRIPINO
O senador José Agripino, do Democratas, disse que sempre defendeu a Operação Lava Jato e que nunca conversou com o presidente do Senado, nem com Sérgio Machado sobre as investigações.