15/01/2020 | 00:32
A narrativa sempre teve um peso muito grande no Brasil. As pessoas, de maneira geral, sempre foram seduzidas mais pela forma do que pelo conteúdo.
A pressa em tirar conclusões, o apreço pela superficialidade, meio que as impede de compreender melhor a realidade, privilegiando excessivamente as versões, os “factoides” – usando a expressão cunhada pelo ex-prefeito do Rio, César Maia -, para definir as mentiras com cara de verdade veiculadas na imprensa.
A ideia de que temos limitações para entender o noticiário, ao invés de nos tornarmos cautelosos e mais exigentes para com a informação, meio que abre uma licença para nos intrometermos em tudo, mesmo sem o respaldo necessário para fazê-lo.
Nunca há espaço para dúvidas ou hesitações. E é aí onde mora o perigo. Como a realidade e nós mesmos nada temos de simples, com frequência, a saída é nos juntarmos a outros desinformados para promover massacres ou exaltações públicas.
Este jornal experimentou esse problema ao publicar uma reportagem na edição desta terça-feira sobre os três anos da rebelião de Alcaçuz, cujas famílias das vítimas até hoje não receberam suas justas indenizações.
De imediato houve quem desdenhasse desse direito, sem perceber que os mortos, muitos dos quais privados de suas cabeças, estavam ali sob a tutela do sistema, entre eles alguns faltando poucos dias para sair.
“Um absurdo”, bradaram alguns justiceiros de plantão nas redes sociais, do alto de uma opinião tão decidida quanto desinformada.
Dividir a sociedade em criminosos, de um lado, e homens de bem, de outro, não é certamente levar a realidade a sério.