A cidade de Natal já teve seu momento “Pablo Marçal” em uma disputa eleitoral marcada por propostas mirabolantes e uma campanha ruidosa. Isso ocorreu na eleição municipal de 2004, quando a corrida pela prefeitura foi acirrada, trazendo personagens que marcaram a história política local. Entre os principais candidatos estavam Carlos Eduardo Alves (37%), Luiz Almir (30%), Miguel Mossoró (18%), Fátima Bezerra (7%), Ney Lopes de Souza (5%), Dário Barbosa (0,7%) e Leandro Prudêncio (0,2%).
Miguel Mossoró se destacou naquele pleito por suas propostas inusitadas e, de certa forma, desconectadas da realidade. Entre as ideias que chamou atenção, estavam a implementação do “Leite Encanado” e a construção de uma ponte para Fernando de Noronha, distante mais de 300 km da costa potiguar. Apesar de ainda não existirem as redes sociais, suas propostas ganharam repercussão, tornando-se um símbolo de irreverência e atraindo a atenção da mídia e do eleitorado. Assim como Pablo Marçal em São Paulo, que promete resolver o problema de transporte da cidade com teleféricos, Miguel Mossoró parecia disposto a desafiar os limites do possível.
Apesar das propostas prosaicas, Miguel Mossoró obteve um resultado expressivo, conquistando quase 20% dos votos. Seu desempenho surpreendeu, evidenciando uma parcela do eleitorado que optou pelo “voto da irreverência” ou pelo protesto contra o sistema vigente. O apoio ao sargento Miguel foi significativo ao ponto de forçar a eleição a um segundo turno, mesmo com a baixa votação dos demais concorrentes. Curiosamente, ele superou candidatos com maior experiência política, como a então deputada Fátima Bezerra, do PT, atual governadora do estado, obtendo quase três vezes mais votos do que ela.
No segundo turno, a disputa foi entre Carlos Eduardo Alves e Luiz Almir. Foi uma disputa acirrada, com Luiz Almir, de perfil mais popularesco, quase desbancando o então prefeito Carlos Eduardo, que conseguiu a reeleição graças ao apoio da governadora e ex-prefeita de Natal, Wilma de Faria.
A eleição de 2004 em Natal mostrou que, às vezes, o eleitor utiliza o voto como forma de protesto ou de brincadeira com a democracia. As campanhas são um reflexo do momento e da insatisfação popular. A questão que se coloca agora é se as peripécias de Pablo Marçal em São Paulo conquistarão o eleitor de maneira mais substancial ou se, no final das contas, o bom senso prevalecerá no momento de decidir o futuro da cidade no próximo dia 6 de outubro.
Vagner Araujo (@fvagner) é ex-secretário de Planejamento e Finanças do RN