Em tempos pré-eleitorais, todo e qualquer assunto precisa ser analisado com as lentes da política, pois até o que não parece assunto político eleitoral às vezes é. Ou se torna.
Lembremos a ocupação do prédio dos antigos Diários Associados. Depoimentos de pré-candidatos a prefeito condenam os “sem-teto” que ali estão e desejam mostrar solidariedade à velha empresa de comunicação. Mas mandam também recado aos ricos e à classe média alta, de que são contra “invasões” e favoráveis aos direitos da propriedade privada. Faltou, naquele momento, o debate óbvio e urgente sobre o déficit de 24.848 moradias para parte dos natalenses que coabitam em regime de favor ou dependência.
Agora o Governo Federal anuncia a construção de 4 mil residências no RN, sendo 532 em Natal, pelo Minha Casa Minha Vida. Aqueles candidatos, tão ávidos em discutir a “invasão” do prédio abandonado, não deram um pio para reconhecer que parte importante da solução estava chegando. Podiam ter falado até para pedir mais. No entanto, fez-se silêncio mostrando que eles não estão preocupados com Natal, mas apenas com a prefeitura.
Estranhamente ninguém fez a defesa do Governo Lula e dos sem-teto, como deveriam fazê-lo.
Agora, o debate é sobre falta de vagas em creches. A Prefeitura do Natal, entrando no modismo do atendimento eletrônico, onde sobra tecnologia e falta sensibilidade humana, ofertou 3.794 vagas, mas se inscreveram 4.957, sobrando 1.208 crianças.
Quase nenhum pré-candidato a prefeito de Natal levou este problema em conta, deixando-nos mais uma vez a sensação de que não estão preocupados com o povo de Natal, esquecendo que é este o povo que vai decidir a eleição de outubro, que escolherá um deles para dirigir Natal pelos próximos quatro anos.
É bem verdade que a sucessão municipal deve se ater, prioritariamente, aos temas locais, como saúde, educação, segurança, habitação, transporte, geração de emprego e renda, cultura, esporte e lazer, saneamento básico, plano de cargos, carreiras e salários dos servidores, etc., mas não se pode esquecer que assuntos nacionais e, às vezes, até internacionais, impactam no debate e na captação de votos.
Semana passada acompanhamos a votação dos nossos deputados federais quanto à prisão do deputado Chiquinho Brazão. Até entendemos a irracionalidade de General Girão e Sargento Gonçalves, que saíram do slogan “Bandido bom, é bandido morto” para “Bandido bom é bandido solto”, quando se esperava de militares a postura antibanditismo. Mas o que deixou todos de queixo caído foi a postura do pré-candidato Paulinho Freire, que votou para ver Brazão nas ruas, mesmo tendo praticado um crime hediondo. Mas é apenas a confirmação do evidente. Candidato da extrema direita, Paulinho busca do voto dos bolsonaristas a qualquer custo.