É muito velho o bordão “Muita terra sem gente e muita gente sem terra…”. No “auê” da CPI do MST, João Pedro Stedile, em entrevista ao Podcast Flow, disse: “Se fosse fazer reforma agrária com grandes propriedades improdutivas, poderíamos assentar 12 milhões de famílias e somos 4 milhões de sem-terra, ou seja, faltaria sem-terra no Brasil.”
Nosso País tem 8.510.000 km2. Um km2 tem 100 hectares. Portanto, o Brasil tem 850 milhões de hectares. Subtraindo-se áreas de preservação ambiental, cidades, estradas etc. Sobram 500 milhões de hectares agricultáveis. O agronegócio ocupa 282 milhões de hectares, dos quais 220 milhões são de pastagens e 40 milhões de lavouras.

22 milhões de hectares estão ocupados pela agricultura familiar. Portanto, temos onde assentar 12 milhões de famílias e só temos 4 milhões de famílias para assentar. Por que, então, não tem reforma agrária, no Brasil, se ela aconteceu em quase todos os países capitalistas desenvolvidos?
É que esse debate se tornou um combo de medo, ódio ideológico e pauta da extrema direita raivosa que espuma diante da possibilidade de trabalhadores rurais se tornem proprietários de terras, portanto, capitalistas iguais a eles mesmos e importante segmento de mercado consumidor, com barriga cheia e dinheiro para comprar produtos da indústria e do comércio da burguesia.
As esquerdas entendem que a mobilização dos trabalhadores rurais sem terra pode torná-los revolucionários, o que, nem e longe é verdadeiro, pois uma vez donos das terras, se tornarão, quase sempre, orgulhosos pequenos burgueses.
A extrema direita, por sua vez, acredita na falácia de que, ocupando terras, os movimentos de esquerda destruirão o poderoso agronegócio brasileiro.
Lula, muito perspicaz, finalmente entendeu que melhor será desapropriar as terras, escolhendo as de boas condições de produção, estruturando assentamentos com casas, suporte hídrico, cultura de produto agroindustrial capaz de permitir agregação de valor e, por fim, o ganho de cinco ou seis anos de tempo que se gasta em ocupações conflituosas, com grande sofrimento às famílias e mais cinco ou dez anos para estruturar o assentamento depois da terra desapropriada.
Pelo preço baixo da maioria das terras hoje improdutivas, com 10% dos 460 bilhões que Lula destinou ao agronegócio doentemente reacionário, poderia desapropriar tanta terra que em quatro anos assentaria todas as famílias sem-terra ora existentes. Sem conflitos, sem prisões e mortes, sem abril vermelho.
Como respondeu Stedile quando um deputado imbecil lhe perguntou na CPI se tinha algum movimento tipo o MST na China… “Não moço. Lá, fizeram a reforma agrária em 1949. Portanto, não tem trabalhadores rurais sem terra…
O que Lula está querendo fazer agora é o que Cortez Pereira fez em Serra do Mel e Touros há meio século e, apesar de todos os erros e atropelos, vem dando certo.