BUSCAR
BUSCAR
Coluna

Filhos na política: O dilema entre a perpetuação de clãs e o legítimo espírito público

Confira a coluna de Vagner Araújo deste sábado 20
Vagner Araújo
20/04/2024 | 07:57

Nascido em uma família em que a política corre nas veias, cresci observando meu pai, prefeito por duas vezes, desempenhar importantes papéis na gestão municipal de Lucrecia, um pequeno município que conheceu a liderança de duas gerações da nossa família. Eu mesmo segui esses passos, assumindo a prefeitura aos 26 anos e reeleito aos 30. Agora, observo meus cinco filhos trilharem seus caminhos, cada um com suas paixões e profissões. Mas é na trajetória política de um dos meus gêmeos que reside a reflexão mais profunda sobre a política e o legado familiar.

Ambos gêmeos, engenheiros formados pela UFRN e atuantes no mercado de marketing digital, mostraram desde cedo uma incrível capacidade de inovação e liderança. Um deles, particularmente, aventurou-se pela política, tornando-se secretário municipal e, posteriormente, recebendo a oportunidade de seguir meus passos e os do meu pai como prefeito de Lucrecia. Essa opção veio numa conjuntura política atípica, onde uma rara coalisão de forças locais o apontava como candidato único.

Prefeitura Municipal de Lucrécia (RN)
Filhos na política: O dilema entre a perpetuação de clãs e o legítimo espírito público - Foto: Reprodução

Entretanto, sua decisão surpreendeu a todos: ele recusou a candidatura à prefeitura. A experiência como secretário lhe mostrou uma realidade da política com a qual ele não se identificava, marcada por práticas e rotinas distantes de seus ideais de gestão e serviço público. Ele receava não atender às expectativas daqueles que o apoiavam, por querer focar exclusivamente na gestão eficiente, longe do perfil costumeiramente esperado dos políticos tradicionais. Respeitei sua decisão, que reflete uma maturidade e uma visão crítica sobre o papel e os desafios da política contemporânea. Acabou por aceitar o papel de vice-prefeito, cumprindo um mandato de quatro anos com dedicação e integridade.

Essa experiência traz à tona uma discussão relevante sobre o envolvimento de filhos de líderes na carreira política. No Rio Grande do Norte, nomes conhecidos evidenciam a prática comum de filhos seguindo os passos dos pais no cenário político. Essa tradição, embora comum em diversas profissões, na política acarreta o risco da perpetuação do poder em mãos de clãs familiares, o que pode ser visto como pratica antidemocrática. Há que haver alternância de poder e oportunidade para todos que demonstrem talento para a ‘arte da politica’.

Por outro lado, não há nada de intrinsecamente errado em seguir a carreira política dos pais, desde que esses “filhos da política” desenvolvam suas habilidades, competências e, sobretudo, um espírito público genuíno. Eles devem ser capazes de contribuir para a sociedade de maneira significativa, para além do legado e do sobrenome que carregam.

A decisão do meu filho reflete essa necessidade de reinvenção e responsabilidade na política. Mostra que, mais do que perpetuar um sobrenome, é fundamental cultivar valores, integridade e uma visão de futuro que beneficie a coletividade. Assim, a nova geração de políticos pode honrar o legado de suas famílias, não pelo poder que herdam, mas pela contribuição efetiva que oferecem à comunidade.

Educação como motor de mudança: Uma visita inesquecível
Leia a coluna de Vagner Araujo
13/04/2024 às 09:28
Terminal Pesqueiro atrairá indústrias de pescado e embarcações
Confira o artigo de Vagner Araujo desta terça-feira 9
09/04/2024 às 07:52
A diferença entre o voto para prefeito e o voto para vereador
Confira a coluna de Vagner Araujo desta quarta 27
27/03/2024 às 07:56
O dilema não é o rumo, mas o ritmo
Confira a coluna de Vagner Araujo nesta quinta-feira 21
21/03/2024 às 08:06
Copyright Grupo Agora RN. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização prévia.