O senador Rogério Marinho pediu mais uma vez, agora em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, anistia para os golpistas do dia 8/1 de 2023. Apesar da farta quantidade de material, de gravações veiculadas nas redes sociais e de conversas adquiridas pela Polícia Federal dando conta da participação de membros do Governo Bolsonaro no planejamento da incursão. Segundo Marinho, a anistia seria uma forma de unir o País.
Será? Primeiro, ao clamar por anistia, o senador quer na verdade perdão. Ao sofismar dessa forma, sequer gera para si o trabalho de embalar de que modo toda a sociedade seria anistiada com a ação. Um modo de reconhecer implicitamente que fala sobre livrar apenas um grupo de criminosos e o seu líder maior: um presidente que passou 30 anos pregando golpe e defendendo o legado (sic) da aventura autoritária brasileira na segunda metade do século passado que, ao constatar a derrota insofismável, semeou o caos no País incentivando acampamentos golpistas e depois agindo nas sombras para gerar a instabilidade em prol de uma virada de mesa.
O discurso de Rogério Marinho vem com uma imposição de anuência ao passado recente. Só que sem nenhum pedido explícito de desculpas. É como se dissesse: o bolsonarismo cometeu crimes e o melhor para a sociedade é aceitar tudo bovinamente de bom grado. Ora, se nada for feito, daqui a 10 ou 20 anos, uma nova tentativa golpista será almejada, na medida em que os custos para não aceitar um revés eleitoral permanecerão mínimos e os incentivos para a bagunça institucional, elevados. E é a partir de benefícios e constrangimentos que os agentes políticos medem seus passos.
A passada de pano para golpistas representaria um recado bem claro para as próximas gerações, talvez até para a atual. Punir com presteza diminuirá a tendência ao eterno retorno com que o Brasil enfrenta tal problema.
Por fim, está claro que não há o menor interesse na extrema direita em unificar o País. Tanto que o bolsonarismo segue na mesma batida, atacando as instituições e avacalhando qualquer esfera em que atua. No último fim de semana, os trajados com camisa do Brasil estiveram na Avenida Paulista, em São Paulo, espalhando notícias falsas, pregando uma vitimização só existente no WhatsApp e pedindo a prisão de autoridades. Uma anistia só aumentaria as investidas alopradas dos seguidores do propalado mito. Frear o golpismo representa um acerto de contas com o passado e a garantia de paz institucional no futuro.
CALMARIA
Já há organização eleitoral e partidária dentro do mundo político para 2024, só que o eleitor não está nem aí. Apenas quando o debate ganhar a TV e o rádio é que talvez a coisa comece a esquentar de verdade. O fato é que, tirando uma cidade ou outra, os números seguem praticamente paralisados.