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Anísio Marinho Neto

Ainda é tempo de salvar

Confira a coluna de Anísio Marinho desta quarta-feira 12
Anísio Marinho Neto
12/06/2024 | 08:17

As pesquisas indicam que, entre as condições próximas e mais frequentes da criminalidade, é indubitável, porém, que aparece, na prima facie, a incúria em torno da formação moral de muitas pessoas no período da infância e da adolescência. Considerável parcela de criminosos que constituem clientela habitual das penitenciárias, seguramente não teriam chegado a esse estado de miserabilidade e degradação moral se tivessem tido, na infância e na juventude, a necessária orientação educacional e proteção familiar e social, ou seja se no seu intelecto, ao invés dos vícios antissociais, se tivesse feito cair, botar e florescer a semente benfazeja dos imperativos éticos, pois, sempre há de prevalecer a máxima de que toda criança é boa por natureza. Pesquisas isentas apontam que muitas crianças e adolescentes que vivem nas baixas camadas da sociedade, só conhecem na vida, senão o que ela tem de sofrimento, de privação, de crueldade, de injustiça. Ao invés de carinho, só recebem pancada; ao invés do mais elementar conforto, só conhecem a insuficiência, senão a carência do pão de cada dia. Tornam-se lhes odiosos o lar, a família, a sociedade e o Estado. Esses jovens desgraçados, que vagueiam em molambos, seminus, desnutridos, dormindo nos desvãos da via pública, ou em lúgubres pardieiros, ao Deus dará, desprotegidos, maltratados, escorraçados, que se poderia esperar deles senão que se deixem resvalar pelo declive de todos os vícios, de todas as perversões, de todos os malefícios?

Imaginemo-nos a nós mesmos, beneficiários de melhor destino, se nós tivéssemos encontrado, na manhã de nossa vida, nessa mesma sombria e dolorosa situação, rodeados de um ambiente de corrupção e imoralidade, passando fome, sede e frio, acuados pelo acicate de todas as necessidades, impelidos ao descaramento pelo aguilhão de todas as privações, mal compreendendo as iniquidades fatais da vida social, deixados ao capricho de nossos próprios instintos e à sugestão de todos os maus exemplos: seríamos por iguais ou piores que esses desventurados infratores, que começam por praticar o furto famélico de um pedaço de pão para saciar a fome e acabam por inerir-se no mundo sem volta da criminalidade. Ainda é tempo de amparar e zelar pelas crianças e adolescentes que não têm lar, ou desertam dele pela sua penúria ou maldade, ou vivem, pelo desleixo dos pais, em meios corrompidos e deletérios. Ficando claro, que a proteção não visa somente aos materialmente abandonados, mas, de modo principal, os moralmente tais; não somente os órfãos, os sem família, os meninos párias, mas também aqueles que vivem num péssimo ambiente familiar, quer se trate de lares abatidos pela pobreza, quer daqueles outros, que embora economicamente felizes ou fartos, são aviltados e podres na sua intimidade.

Foto: José Aldenir/AGORA RN
Ainda é tempo de salvar - Foto: José Aldenir/AGORA RN