04/03/2020 | 12:33
Além da criação de pontos de pesca e de mergulho em Fernando de Noronha, o presidente do Instituto Brasileiro do Turismo (Embratur), Gilson Machado Neto, afirmou que os cruzeiros vão voltar ao arquipélago, composto de 21 ilhas. O governo de Pernambuco alertou que essa liberação vai causar impactos na infraestrutura do local.
A temporadas de navios em Noronha foi encerrada em 2013. A volta dos cruzeiros foi mencionada por Machado Neto em um vídeo em que ele aparece ao lado do senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), durante uma visita na sexta (28) ao arquipélago, reconhecido como Patrimônio Natural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
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Gilson Machado Neto mencionou a possibilidade durante vídeo gravado com Flávio Bolsonaro durante visita a Noronha — Foto: Reprodução/Redes sociais
Na gravação, que circula pelas redes sociais, o senador afirmou que eles estão “desatando os nós dessa legislação para permitir que esses segmentos [cruzeiros e mergulhos em recifes artificiais] também sejam muito melhor explorados pelo nosso país”.
“Eu não tenho dúvidas que os cruzeiros vão voltar a Noronha num curto espaço de tempo. A decisão final é do Ibama, o ministro do Meio Ambiente vai ver a parte jurídica para poder liberar o mais rápido possível”, disse Machado Neto, em entrevista ao Blog Viver Noronha, na segunda-feira (2).
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Fernando de Noronha recebeu anúncio de 16 pontos de pesca e de mergulho — Foto: Ana Clara Marinho/TV Globo
De acordo com o secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco, José Bertotti, o governo do estado recebeu “com surpresa” a possibilidade de licenciamento de cruzeiros. Segundo ele, o assunto não foi levado ao Conselho Gestor, que é composto pelos governos federal e estadual, além de órgãos de proteção ambiental e empresários de Noronha.
Como Noronha tem capacidade limitada para receber os visitantes, a superlotação do arquipélago é vista com preocupação. “O licenciamento de um cruzeiro desse tem que levar em consideração, por exemplo, que hoje o plano de estudo de capacidade de carga prevê 85 mil pessoas em Noronha por ano. No entanto, isso já está sendo trabalhado em mais de 100 mil pessoas”, afirmou Bertotti.
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Praia da Conceição tem vista privilegiada para o Morro do Muco, em Fernando de Noronha — Foto: Fábio Tito/G1
Os impactos, segundo o secretário, vão além de comprometer a preservação ambiental do arquipélago e também devem ser sentidos na infraestrutura. “Fernando de Noronha é um patrimônio natural que não tem água potável, por exemplo. O governo do estado é que provê a infraestrutura de dessalinização e transporte de água, se necessário”, declarou.
“Ao se pensar em fazer uma discussão desse tipo, você leve primeiro em consideração que já se tem um volume a mais do que está previsto no estudo de capacidade e carga, que foi feito, inclusive, pelo governo federal. E também uma lógica de discussão no conselho gestor da área de proteção ambiental, para discutir que tipo de impacto vai ter na natureza, na infraestrutura e para os moradores e turistas que chegam na ilha hoje”, afirmou Bertotti.
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Turistas chegam à Praia do Porto para passeio de barco em Fernando de Noronha, em janeiro de 2019 — Foto: Fábio Tito/G1
O administrador de Fernando de Noronha, Guilherme Rocha, afirmou, nesta quarta-feira (4), que é preciso pensar na sustentabilidade das ações. “Não podemos permitir pensar em retroceder no tempo e ir de encontro à legislação ambiental que foi feita para proteger o patrimônio ambiental da ilha de Fernando de Noronha”, disse.
O G1 procurou a Embratur sobre as declarações do secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco e do administrador de Fernando de Noronha, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.
Pesca e recifes artificiais
Além da possibilidade de volta dos cruzeiros a Noronha, o presidente da Embratur anunciou a liberação de 16 pontos de pesca e de mergulho no arquipélago. Para o governo estadual, as belezas naturais do arquipélago anulam a necessidade de criação de recifes artificiais.
“Não é necessário que se crie paraísos artificiais. Noronha é um paraíso natural e por isso que hoje ela é um dos principais pontos turísticos do Brasil”, disse Bertotti.