São Miguel do Gostoso está tomada por visitantes, realizadores e moradores animados com a 12ª Mostra de Cinema de Gostoso, iniciada na última quinta-feira 20 e que segue até segunda 24 na Praia do Maceió. O festival reafirma sua vocação de aproximar quem faz cinema de quem vive a cultura potiguar no dia a dia.
A abertura lotou a sala à beira-mar e deu o tom de uma programação: democrática, afetiva e cheia de protagonismo local. Entre autoridades, produtores, críticos e cineastas, o público acompanhou os primeiros filmes da Mostra Competitiva – Dia dos Pais, de Bernardo Abinader, e A natureza das coisas invisíveis, de Rafaela Camelo – sob o céu estrelado que já virou uma assinatura do evento.

Mas o que mais se destacou neste começo de Mostra não foi apenas a lista de filmes, foi a presença ativa das pessoas que constroem cultura no Rio Grande do Norte. A atriz Tânia Maria, mais conhecida como Dona Tânia, é presença cativa na Mostra e foi homenageada em diversos momentos por seu papel em O Agente Secreto, estrelado por Wagner Moura e cotadíssimo ao Oscar.
Essa troca tem sido uma marca fundamental da Mostra. Manhãs e tardes de conversa colocam frente a frente estudantes, artistas, críticos e curiosos num mesmo círculo. Aliás, o ponto alto deste sábado 22 será a aguardada sessão especial de O Agente Secreto, dirigido por Kleber Mendonça Filho.
Além das sessões ao ar livre, a programação se desdobra em quatro eixos (Competitiva, Sessões Especiais, Panorama e Mostra Potiguar) reforçando a diversidade que caracteriza o festival. A nova janela dedicada exclusivamente aos filmes do Rio Grande do Norte tem atraído atenção, confirmando o crescimento e a vitalidade da produção audiovisual do Estado.

Reconhecida este ano como Patrimônio Cultural, Turístico e Imaterial do RN, a Mostra de Cinema de Gostoso é um evento onde o cinema se faz mais próximo, mais coletivo e mais potiguar. A programação completa está disponível no perfil oficial na rede Instagram: @mostradecinemadegostoso.
Matheus Nachtergaele volta ao RN após 25 anos e se encanta
Vinte e cinco anos depois de pisar pela última vez no Rio Grande do Norte, o ator Matheus Nachtergaele voltou ao Estado para viver uma experiência que ele mesmo define como um reencontro com suas raízes cinematográficas. Em entrevista ao AGORA RN durante a Mostra, Matheus falou sobre memória e cinema com o entusiasmo de quem finalmente retomou um hábito interrompido pelas novelas e pelos grandes projetos recentes.
A história da relação de Matheus com o RN começa no ano 2000. “Depois de fazer a minissérie A Muralha, eu vim ao Rio Grande do Norte visitar uma parte da minha família. Eu passei uns 20 dias lá em Genipabu”, lembrou. Desde então, por uma soma de compromissos artísticos e coincidências, o retorno nunca aconteceu.
O reencontro com Gostoso, porém, foi planejado por ele. “Dessa vez eu me ofereci para vir para a Mostra”. O ator vinha de uma maratona profissional intensa: duas novelas seguidas (Renascer e Vale Tudo), a segunda temporada de Cidade de Deus pela HBO e as gravações de O Auto da Compadecida 2. Quando finalmente encerraram-se os compromissos, veio o que ele chamou de abstinência cultural.

“Eu senti muita saudade de ver cinema. Passei… quase dois anos sequestrado dos festivais de cinema, que eu adoro frequentar e perambular”, explicou. A solução foi voltar a circular. “Fiquei impressionado com a maravilha da projeção a céu aberto, muito impressionado. Nos festivais você consegue caçar as pérolas do cinema”, disse.
Matheus tem dedicado os dias a assistir aos filmes da Mostra. Ele destacou a importância dos festivais como espaço democrático e essencial para a circulação do cinema brasileiro. “Eu acho que nos festivais a gente vê os melhores filmes mesmo do Brasil, porque nem sempre os melhores filmes são aqueles que conseguem adesão de bilheteria”, pontuou.
Para o ator, festivais como o de Gostoso reafirmam a diversidade e a expansão do cinema brasileiro para além do eixo Rio–São Paulo. “O Nordeste sempre é um manancial de arte para nós todos, e no audiovisual é talvez o produtor dos mais belos filmes.” Ele ainda celebrou a ocupação de espaços por novos talentos: “Os atores nordestinos foram ocupando seu espaço, graças a Deus”.
Dona Tânia e Alice Carvalho
Ao falar das atrizes potiguares presentes em O Agente Secreto, Matheus não economiza afeto e nem humor. Dona Tânia é “uma fofa. Praticamente uma bandida. Alice Carvalho eu conheço desde Renascer… E agora estou conhecendo essa figura que é a Tânia. Ela é simples, divertida e está adorando essa aventura de estar num filme grande. Parece uma criança feliz”.
Festivais como espaço de encontro
Matheus destacou ainda a função social dos festivais. “Os melhores filmes estão nos festivais de forma gratuita, envolvendo os habitantes do local onde eles acontecem”. Para ele, é fascinante o debate entre quem faz o filme e quem assistiu. Essa troca é a essência da experiência cinematográfica: “Isso sempre me parece ser a parte mais saudável e bonita do cinema brasileiro”.